O novo livro de FHC
por José Nilton Mariano Saraiva
Se para alguns críticos o livro A Arte da Política - A História que Vivi, de autoria do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é “...uma aula de História, Ciência Política e Política”, igualmente também poderíamos considerá-lo como um primor de bazófia, desfaçatez, falsidade e omissão.
Bazófia – quando recorrentemente insiste, ao longo do texto, em autoproclamar-se um intelectual cosmopolita, condição que teoricamente lhe conferiria uma credencial “sine qua non” à abertura de novos mercados para o Brasil no mundo globalizado, assim como uma maior respeitabilidade diplomática no tratamento com autoridades e nações desenvolvidas (um exemplo da grandiloqüência: chegou a sugerir ao papa João Paulo II (sem sucesso), durante audiência no Vaticano, que conversassem em um outro idioma que não o fluente português que Sua Santidade insistentemente teimava em utilizar).
Desfaçatez – quando tenta inutilmente relevar todos os grandes escândalos que marcaram seu governo, ora transferindo responsabilidades (como a compra de votos para a reeleição, atribuída a lideranças regionais), ora ao abordar en passant uma questão gravíssima como a venda por todos reconhecida como subfaturada da Companhia Vale do Rio Doce (mas no seu entender realizada por um preço justo) ou, ainda, ao considerar irrelevante (pasmem !!!) a citação e uso do seu próprio nome (do Presidente da República), pelos amigos instalados na cúpula do BNDES, objetivando alavancar negócios suspeitos quando da privatização (também a preço de banana e ainda subsidiada pelo governo), da então principal “jóia da coroa”, o pujante e promissor setor de telecomunicações (constatada via grampo telefônico);
Falsidade – faz dela uso quando literalmente descobre e desenterra o humanamente impossível: uma pretensa e surrealista “empatia” do elitista correligionário Tasso Jereissati com o povão (como sabemos, algo absolutamente descabido e fora de propósito, dada a prepotência e arrogância do dito-cujo); e
Omissão – quando ao referir-se à indicação (pelo então governador do Ceará, Tasso Jereissati) do senhor Byron Queiroz para o Banco do Nordeste do Brasil S.A (BNB), importante estatal federal atuante na região, rotula-o açodadamente de “competente”, esquecendo as portentosas fraudes ocorridas durante sua calamitosa gestão à frente daquela instituição (que levaram o BNB tecnicamente à falência, obrigando a União a responsabilizar-se pelo descomunal rombo então perpetrado, de astronômicos R$ 7 bilhões).
Para lhe fazer justiça, créditos ao ex-presidente FHC quando ao referir-se ao senhor Ciro Gomes, fuzila sem dó nem piedade: “...Ciro Gomes me parecia um caso perdido. Tinha a pretensão de conhecer economia e proferia incessantemente declarações megalômanas”; e, contundente, conclui sua análise sobre o antigo companheiro nos premiando com a seguinte pérola: “...embora seja difícil avaliar políticos pela via da psicologia, passei a ver no ex-governador traços de um iconoclasta, que busca a notoriedade postando-se contra quem está no poder”.
Em resumo: apesar de escrever fácil, da febricitante narrativa, da riqueza e ecletismo do vocabulário e de relatar algumas passagens interessantes da dinamicidade do dia-a-dia do macro universo de atuação de um mandatário nacional, FHC não consegue convencer ou passar credibilidade àqueles que acompanharam pari-passu todo o desenrolar da sua malfadada administração à frente do país durante torturantes e longevos oito anos.
Assim, fica nos devendo o ex-presidente !!!
José Nilton Mariano Saraiva é economista.
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