Repuxar as sobrancelhas.
Isso deixa a gente com cara de maluco, estas sobrancelhas sempre no alto. Mas impede o sono.
Impede dormir de novo, atrapalha bocejar no meio da rua e cair para o lado da pilastra, fulminado. Porque estou te falando daquele sono paralisante, no qual você não consegue mais mexer um dedo para se levantar e sair do quarto que está pegando fogo. Um sono para lá perigoso.
Na boca, vai cozinhando o mesmo hálito, aquele hálito de muito tempo de boca fechada. Se você beija dentro dessa boca, é como entrar numa imensidão carnosa e quente, muito quente – levemente nauseante – como se o outro, o dono do beijo, tivesse tomado coca-cola morna.
Depois, circular...
Passear braços e pernas – tão bonitos, tão simétricos... – lançá-los pela direita, recolhê-los pela esquerda, colocá-los nos trilhos do mesmo passo e do mesmo balanço. Trabalhar as curvas, planejar com cuidados viradas súbitas, calcular o ângulo certo.
Então, a voz.
Barítono, dizem. Desconfio que as pessoas vêem em mim um sapo. Não sei porquê. Barítono, a palavra, não te lembra um sapo?
Mas a voz, os brincos, o aparelho de surdez, os aros finos do óculos, os cabelos invadindo a cara – (aquela ruína) –.
Insidiosamente: é o modo como estes fios avançam. Por debaixo das orelhas, por cima do nariz, escondido nas narinas. Sem mostras visíveis de arrependimento. Sem praga possível que os faça parar. A cada noite, vão ganhando mais terreno, conquistando mais um palmo.
Generais invencíveis e metódicos comandam estes fios.
Espelhos, vidros, janelas, reflexos, superfícies aquosas, todos reproduzem este quadro triste. Como numa conspiração, todos eles combinando-se e confirmando-se uns aos outros. Sem parar.
(Se me perguntam, então, não hesito: “O corpo? Este engodo, esta interrogação.”)
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