31.10.06

À comemoração...





Segue trechinho do artigo de Emir Sader "O direito à festa e à luta". Ouvi Emir Sader falar no Forum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre e não esqueço nunca de uma frase dele: "Com este governo, é pau e conversa", ou seja, se as reformas sociais que tanto queremos e necessitamos não ocorrerem num governo de esquerda, podem ter certeza, não acontecerão em nenhum outro.

Mas, agora, é tempo de comemorar.


O direito à festa e à luta
Emir Sader

Foi duro, foi muito duro. Talvez tivesse sido mais fácil – se tudo fosse pensado do ponto de vista da biografia individual de cada um – ter rompido, ter ido embora, ter dito tudo o que o governo merecia ouvir, com todos os tons e sons. Mas teria sido dizer que tínhamos sido irremediavelmente derrotados, que tudo o que tínhamos feito nas décadas anteriores tinha desembocado numa imensa derrota. Teria sido abandonar as trincheiras de luta que tínhamos construído com tanto esforço e sacrifício.

Dava vontade. Em certos momentos teria sido muito mais fácil deixar correr solta a palavra, aderir à teoria da “traição”, refugiar-nos nas denuncias e abandonar a possibilidade de construir uma alternativa concreta.

Como se não bastasse tudo isso, vieram os “escândalos”: Waldomiro Diniz, Roberto Jéferson, “mensalão”, “sanguessugas” – cada um como uma nova estaca no nosso coração. A imagem ética do PT, construída como a menina dos nossos olhos era revertida. Nos tornávamos o partido dos “maiores escândalos da história do país”. A palavra “petista” passava a ser revestida de uma desconfiança de “corrupção”. Nada de pior poderia acontecer a um partido que tinha nascido, crescido, se fortalecido e se tornado vitorioso com as bandeiras da “justiça social e da ética na política”. Não éramos fiéis nem a uma nem à outra.

No entanto, não nos fomos. Ficamos. Seguimos tentando encontrar os fios para retomar o caminho de que nos havíamos desviado. Sabíamos que os grandes enfrentamentos ainda estavam por ser dados. Sabíamos que nossa política externa era a correta e se havia tornado essencial para o continente – agora povoado de governos progressistas, como nunca na história da América Latina. Sabíamos que nos podíamos orgulhar da Petrobrás – que quase havia se tornado Petrobrax nas mãos criminosas dos tucanos -, da autosuficiência em petróleo, de que uma das maiores empresas do mundo havia resgatado o Brasil da crise do petróleo através de uma tecnologia de pesquisa e extração de petróleo em águas profundas, com tecnologia nacional e pública. Sabíamos que a privataria na educação, que havia feito proliferar faculdades e universidades privadas como verdadeiros shopping-centers que vendiam educação como big-macs, havia terminado. Que se fortaleciam as universidades públicas, que passávamos a ter, pela primeira vez, políticas públicas de cultura, abertas à criatividade e à diversidade popular. Que Lula não era FHC, que o PT não era o PSDB. Que os movimentos sociais não eram mais criminalizados e reprimidos. Que a relação com a Venezuela, a Bolívia, Cuba, a Argentina, o Uruguai – era de irmandade e não de preconceitos de quem olha par ao Norte e para fora. Que a Alca tinha sido brecada e derrotada pela nossa política externa. Que o Brasil tinha sido o principal responsável pela reaparição do Sul do mundo no cenário internacional com o Grupo dos 20 e as alianças com a África do Sul e a Índia. Que as políticas sociais do governo, mesmo não sendo as que historicamente haviam caracterizado ao PT, mudavam, pela primeira vez o ponteiro da desigualdade – a maior do mundo, o maior desafio da história brasileira – no sentido positivo. Que nem que fosse por solidariedade com a grande maioria dos brasileiros – pobres, miseráveis, excluídos, discriminados, humilhados e ofendidos secularmente -, tínhamos que valorizar essas políticas sociais.

Valeu a pena termos ficado, termos continuado na luta, termos acreditado que este é o melhor espaço de luta, de acumulação de forças, de construção de alternativas para o Brasil. Não porque tenhamos triunfado nas eleições . Claro que também por isso. Porque derrotamos o grande monopólio privado da mídia, demonstrando que é possível e indispensável construir formas democráticas de expressão da opinião pública, tirando-a das mãos oligopólicas das quatro famílias que se acreditavam donas do que se pensa no Brasil. Claro que porque derrotamos o bloco tucano-pefelista – e de cambulhada mandamos para a aposentadoria política a Tasso Jereissatti, a ACM, a Jorge Bornhausen, a FHC -, derrotamos a direita.

Recuperamos, especialmente no segundo turno, porque chamamos a direita de direita. Dissemos um pouco das desgraças que eles fizeram para o Brasil – finalmente abrimos o dossiê da “herança maldita”. Criminalizamos as privatizações, possibilitando que aparecesse à superfície a condenação majoritária dos brasileiros a um processo embelezado e sacralizado pela mídia e pelos arautos do grande capital privado dentro dela. Porque apelamos à mobilização popular, porque fizemos uma campanha de esquerda no segundo turno. Porque comparamos o governo deles com o nosso que, mesmo com todas as suas fraquezas, mostrou-se inquestionavelmente superior ao deles. Foi isso que triunfou. Triunfamos pelo que mudamos, não pelo que mantivemos. Ganhamos porque nos mostramos diferentes e não iguais a eles.

Comemoremos, porque merecemos a vitória, apesar dos nossos erros. Mas para estar à altura da nossa vitória, temos que fazer dela uma vitória da esquerda. Uma vitória que esteja à altura do emocionante apoio que o governo recebeu, ao longo de toda a campanha, dos mais pobres, dos mais marginalizados, dos que constituem a grande maioria dos brasileiros, dos que trabalham mais e ganham menos. Dos que souberam, como ninguém, resistir à enxurrada de propaganda que a mídia despejou sobre todos. Fazer do novo governo, antes de tudo o governo deles. De todos os brasileiros, mas sobre tudo dos que sempre foram marginalizados, excluídos, reprimidos, que sempre viveram e morreram sobrevivendo, no anonimato, no silêncio, no abandono.

O artigo inteiro está no link: http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=65

Tadinho do chuchu...



Ontem, revi o momento em que Geraldo Alckmin admite sua derrota em entrevista. Fez o discurso-chuchu básico e acrescentou ter ligado para Lula e desejado um bom mandato. Para mim, desde o começo da campanha eleitoral, este foi o momento mais interessante de Geraldo Alckmin: a dignidade da derrota. Mas Borges já vaticinou isso há muito - na Ilíada, torcemos pelos gregos, mas percebemos a dignidade dos troianos em sua derrota.

27.10.06

Sem comentários...

Clipping - Carta Maior

Quem é que está mentido, Lula ou FHC?
Bernardo Kucinski

Fernando Henrique disse outro dia que o PT mente, mente, mente, até que a mentira se torne verdade. Depois, foi a vez de seu candidato repetir a acusação. Fui conferir. Descobri que não é bem assim. Localizei facilmente quatro mentiras importantes que os tucanos é que vêm repetindo ad nauseam, conseguindo que se tornem verdades, com a ajuda de nosso preguiçoso e desmemoriado jornalismo.

Primeira mentira, a do aparelhamento do Estado. Essa foi espalhada pelos tucanos logo no início do governo Lula e repetida pela mídia. Acusaram o governo Lula de manter 40 mil cargos de confiança (os que não precisam ser preenchidos por servidores de carreira). Mentira grosseira: em 2005 havia 19.925 cargos de Direção e Assessoramento Superior, chamados DAS ou cargos de confiança. Menos da metade do que dizia o tucanato. Desse total, apenas 7.422 foram preenchidos ou substituídos por indicados pelos partidos da base de sustentação do governo. E pelos dados disponíveis no site do Ministério do Planejamento, 68,9% dos DAS em novembro de 2005 continuavam sendo ocupados por funcionários públicos de carreira, praticamente a mesma proporção de novembro de 2001 (70,5%), apesar da profunda virada política que representou a vitória de Lula. E mais: cerca de 80% vão de DAS1 a DAS3, que dão ao servidor uma gratificação de apenas R$ 1.000 a R$ 1.500. São servidores ocupando funções que exigem confiança, mas relativamente modestas, como secretárias.

A mentira do “brutal” aumento da carga tributária. Os tucanos dizem que o governo Lula aumentou absurdamente a carga tributária. Mentira. Eles é que aumentaram absurdamente a carga tributária: o insuspeito Instituto de Planejamento Tributário diz que a carga aumentou de 28,61% do PIB, no último ano do governo Itamar Franco (1994), para 35,84% do PIB, no último ano do governo FHC (2002). Um aumento de 7,23 pontos percentuais ou mais de 25%.E qual foi o aumento no governo Lula? Apenas 2,01 pontos percentuais, segundo o mesmo instituto, ficando em 37,85% do PIB. E mais, os maiores aumentos relativos no governo Lula foram dos impostos estaduais e municipais. A carga federal aumentou apenas 1,2 ponto percentual, de 25,37% do PIB para 26,55%. Sob os tucanos a carga tributária aumentou brutalmente, mudou de escala, e sob Lula ela variou apenas na margem.

A mentira da maior corrupção de todos os tempos. Essa é uma mentira muito grave, porque mexe com a imagem e a reputação das pessoas as pessoas, de suas famílias, seus filhos, seus amigos. Os tucanos dizem que nunca houve tanta corrupção no Brasil como no governo Lula, mas até hoje foram poucos e de pequena monta os casos de corrupção comprovados dentro do governo federal. Um dos poucos casos foi o do funcionário dos Correios Maurício Marinho, flagrado pegando grana e devidamente demitido depois de uma sindicância. Eram três mil reais. Em contraste, no governo FHC foram vários e de grande monta os casos de corrupção, quase todos na casa dos bilhões de reais: o prejuízo de R$ 1,54 bilhão do Tesouro no socorro aos bancos Marka e Fonte-Cindam, levando à demissão do então presidente do Banco Central, Chico Lopes, e à fuga para a Itália, onde está até hoje, do banqueiro Salvatore Cacciola; o desvio de R$ 2 bilhões de recursos da Sudam no período 1994 a 1999, que levou à renúncia do ex-presidente do Senado, Jader Barbalho, e o desvio de R$ 1,4 bilhões do Finor em 653 projetos da área da Sudene, através do uso de notas frias; o desvio de R$ 168 milhões na construção da nova sede do TRT de São Paulo, levando à prisão do juiz Lalau e de Fábio Monteiro, que conseguiam as liberações de verbas diretamente do então secretário da Presidência, Eduardo Jorge (o que não significa de necessariamente que Eduardo Jorge soubesse dos desvios); o pagamento comprovado de R$ 200 mil aos deputados Ronivon Santiago e João Maia para que votassem a favor de Emenda da reeleição, levando à expulsão dos dois do PFL e renúncia de seus mandatos.

A mãe de todas as mentiras, a de que o governo Lula não combate a corrupção. Essa é pesada. É o governo FHC que nunca combateu a corrupção e não permitiu que fosse investigada. Não têm paralelo com o governo FHC as dezenas de operações de desbaratamento de quadrilhas no serviço publico, ou com ramificações na Receita Federal, no Ibama, na Previdência e na Polícia Rodoviária Federal, todas originárias dos tempos do governo FHC ou até de antes; destacam-se a operação vampiro e a operação sanguessuga, que desbaratou esquemas de corrupção que vinham desde 2002. E mais, Fernando Henrique adotou como política geral impedir investigações de corrupção.Talvez porque as privatizações exigiam um ambiente de permissividade. Em vez de mandar investigar as fraudes da Sudam e da Sudene, FHC extinguiu as duas agências de desenvolvimento regional, com o que tornou praticamente impossível qualquer investigação futura. Uma modalidade de “queima de arquivo” institucional. Em vez de investigar as acusações de fraudes no DNER, extinguiu da mesma forma o DNER. Quando um grampo revelou malandragem de funcionários do BB e da Previ nas privatizações, a ponto de caírem os altos funcionários e até o ministro das Comunicações, FHC não permitiu a instalação de uma CPI da Privatização da Telebrás, usando o truque regimental de prolongar o funcionamento de várias CPIs fantasmas.Tudo isso está na internet. Qualquer jornalista pode refrescar facilmente a memória e relembrar que eles mesmos chamavam o procurador-geral da República do governo FHC de engavetador-geral da República. Memória, pesquisa, contextualização e hierarquização adequada dos fatos. Isso é jornalismo. O resto é mentira.

Matéria completa: http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3372


Melhorias no setor não suprimem rosário de contestações
Jonas Valente

(...)

Passados oito anos do leilão da Telebrás, os resultados são controversos. O próprio aumento de aparelhos, um dos argumentos mais entoados por Alckmin e tucanos na defesa do processo, apresenta uma trajetória irregular. Entre 1998, primeiro ano do novo modelo, e 2001, foi registrado crescimento de linhas fixas de 20 milhões para 47 milhões. No caso da telefonia móvel (celulares), o salto foi de 7,5 milhões para 35 milhões de aparelhos em 2002. O crescimento da telefonia móvel continuou nos quatro anos seguintes, chegando ao número de 92 milhões brasileiros com telefones celulares em 2006. Já na telefonia fixa, a quantidade de terminais caiu para 39,9 milhões este ano.

Da forma como foi desenhada a privatização, com um monopólio privado regional (a Telefônica em São Paulo, a Telemar em parte do Sudeste e Nordeste, e assim por diante), a concorrência se tornou uma fábula na telefonia fixa (leia matéria sobre o assunto) e ficou apenas na modalidade móvel. “Desenharam em três áreas e não estabeleceram regras de competição e condições de competitividade. Eles questionavam o problema da competição, mas mantiveram a mesma situação só que dessa vez nas mãos da iniciativa privada”, analisa José Zunga, da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações (Fittel). No caso dos terminais fixos, mesmo com o monopólio, houve uma expansão da oferta nos primeiros anos. O crescimento das linhas e a redução do preço para sua habilitação não foram motivados pela busca da universalização do serviço, mas pelo cumprimento das metas na sua área de cobertura para poder avançar sobre outras áreas. O aumento da disponibilidade de linhas não se refletiu no crescimento do acesso da população e gerou uma ociosidade de 11 milhões das 47 milhões de linhas em funcionamento em 2001.

(...)

Em artigo presente no livro Governo Lula: decifrando o enigma, o economista César Benjamin, que foi candidato a vice-preidente na chapa de Heloísa Helena, do PSol, critica os impactos da privatização da telefonia. De acordo com ele, os custos de investimento e a manutenção de capacidade ociosa do setor acabaram sendo bancado pelo Estado. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, investiu US$ 6 bilhões na expansão das redes entre 1998 e 2001. Além de onerar o governo e aumentar o endividamento externo, a conta foi transferida, segundo Benjamin, para o cidadão, que teve de arcar com um aumento abusivo das tarifas de telefonia. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o custo da telefonia para a população entre 1998 e 2006 cresceu 156%, contra apenas 56% de evolução da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O reajuste das tarifas foi pressionado pelo fato da receita proveniente da cobrança das mesmas ter sido usado para compensar a redução do preço da habilitação das linhas. Isso se refletiu no preço da assinatura básica. “Assinatura básica sempre recebeu reajuste maior do que os outros serviços porque é receita garantida”, diz Daniella Tretell, do Idec. Dados da Fittel mostram que, entre 1994 e 2006, o preço deste item saiu de US$ 0,69 para US$ 20. O resultado foi a redução do número de terminais, chegando a menos de 40 milhões em 2006, e a constituição de um serviço desigualmente distribuído no País, que melhorou a qualidade e ampliou sua capilaridade nas regiões mais ricas e ainda está distante de parte importante da população.

(...)

O questionamento dos resultados vem acompanhado de avaliações negativas do processo de privatização. Para Carlos Zanatta, editor do periódico especializado Teletime, o leilão dos ativos sequer deveria ter acontecido. “Não havia necessidade de vender. Fico me perguntando se precisava ter feito isso. Não teria outra forma de tocar o negócio da Telebrás?”, questiona. O pesquisador e jornalista Gustavo Gindre, que ocupa uma das cadeiras no Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI-Br), não considera que tenha sido um problema a abertura à concorrência do setor, mas aponta como erro histórico não ter aproveitado o peso da Telebrás para manter uma empresa estatal forte, com condições não só de competir com as operadoras que passariam a atuar no mercado, mas também no plano internacional.

“As redes e serviços de comunicações estão no cerne do funcionamento do capitalismo atual. Qualquer país que pretenda ser ator influente neste mundo globalizado e informacional detém o controle de uma grande operadora de telecomunicações, mesmo que privada. O Brasil possuía a maior operadora da América Latina e do Terceiro Mundo, a primeira maior fora dos Estados Unidos e Europa. Perdemos a chance de determos um operador global de telecomunicações, deixamos o caminho aberto para a Telmex”, lamenta Marcos Dantas. Na opinião do professor, o governo Lula perdeu a chance de buscar uma nova estatização de parte do setor e favoreceu ainda mais a entrada da Telmex ao recusar a compra da Embratel por um consórcio comandado por capital nacional dos fundos de pensão de estatais.

(...)

Matéria completa: http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12675

Ritual 'tutânico'

Arnaldo Antunes e Grupo Corpo, 1999


Momento III
Arnaldo Antunes - 1999
é molhado de costas
é impermeável de bruços
é de frente e de lado de costas
um pouco mais embaixo de bruços
é como é de costas
como deve ser de bruços
fica de pé de costas
deita no chão de bruços
fecha sua couraça de costas
abre aspas de bruços
acha graça de costas
dá risada de bruços
fala no telefone de costas
escuta passos de bruços
voa no céu de costas
respira em baixo d'água de bruços
é como estar de bruços de costas
é como estar de bruços
é a mesma pessoa de costas
se transforma de bruços
fica cansado de costas
descansa de bruços
fala pelos cotovelos de costas
pensa melhor de bruços
ajoelha de costas
senta de bruços
a chuva cai de costas
os automóveis passam de bruços
já é de madrugada de costas
adormece de bruços
abre o portão de costas
anda na rua de bruços
tem certeza de costas
fica em dúvida de bruços
muda de posição de costas
não quer ficar mais de bruços
deita de costasacorda de bruços
toma água de costas
toma sol de bruços
fica boiando no mar de costas
nada de bruços
levanta de costas
sente o peso dos braços de bruços
acorda de costas
volta a dormir de bruços

25.10.06

Brasilia - nonada!

Brasília é uma cidade terrível. Nos meses de calor, me dói do lado de fora – as coisas, as árvores, os bichos, os carros e as ruas parecem suar junto com a gente e reclamar, baixinho, da secura.

Nestes meses chuvosos, me dói do lado de dentro. Dói assim que, indo para o trabalho, eu atravesso o eixão e vejo o céu acinzentado lá no fundo. Como se eu não conseguisse mais me organizar - a obra de Kapoor, no CCBB, chama “Wounds and Absent Objects”, como se eu virasse objeto ausente também, ausência. Desfaz a “nossa pessoa”, como eu ouvi, dia desses, alguém lindamente se referir a si mesmo. Dá uma dormência lá dentro, não nos braços, não nas pernas – mais Guimarães Rosa – lá “nas peles de dentro, no sombrio do corpo, no arranhar dos órgãos”. A chuva anoitece o dia e o tempo do relógio não vale mais para nada. Este, com certeza, não é o mesmo registro que os compromissos, os atrasos, os cálculos, os números. Deve ser, provavelmente, o tempo da morte.

Não demora muito para eu perceber alguma coisa. Acho que já falei disso aqui. A grande Casa da Infância, e do Sonho. Me angustia o céu cinzento da cidade porque, na casa dos avós, era sempre chuva. Chovia e a gente não podia sair da casa, a avó não deixava ficar nem na varanda. Chovia e o único que eu podia fazer era ler. Ou chovia e eu asmava, arfante e quieta porque eu ainda era criança sem medo neste tempo. (Brincadeiras de Rosa).

(A leitura sempre foi extensão da minha asma.)

Vous comprenez? Est-ce que vous comprenez?

“Tudo o é dito, é dito para alguém.” “O que significa, significa para alguém”. “Mesmo quando falamos sozinhos, falamos para o Outro”. Acho que estamos, mais, falando para a linguagem mesma. Para dribla-la, corrompe-la, menti-la nela mesma ou fazer a verdade atravessá-la (mas nunca fixar-se na linguagem).

Mas será tudo linguagem? Será tudo literatura? Porque eu sei que não é tudo psicanálise.

“Viver é coisa perigosa.”

Perigosa mesmo quando se vive estas pequenas impressões, sugestões sussurradas, leve empurrão direção nenhuma: um certo ângulo, e um olhar pode acontecer. Chego ao trabalho e olho o Setor Comercial à noite, sob a luz amarela dos postes, o cheiro de queimado do prédio da frente, os policiais atravessando a rua, os travestis segurando vistosas sombrinhas contra o chovisco.

Um olhar literário ou cinematográfico, um olhar que pode encontrar alguma beleza ou sublime nestas cenas (o sublime que vai além da beleza, que encontra outra coisa, que pode ser o horror, mas que o prende mais do que aquilo necessariamente belo). O olhar de Proust. Quando ele está acamado e asmático, se alimentando de café, amorosamente cuidado por Celeste Albaret. Quem diria que aqueles grã-finos, a aristocracia perdida ao perceber que dinheiro vale muito mais que espírito, estas pessoinhas que, como nós, viviam sua vida e se tornaram literatura a despeito de si mesmas.

Estou preocupada com estas operações: tornar a linguagem vida (se bem que, cada vez mais, tenho certeza de que linguagem é condição sine qua non para qualquer vida), tornar a vida literatura. Um bom livro não faz mais que isso: escolher as palavras a serem assassinadas ao seu redor, no seu campo magnético. O mesmo faz um bom filme: escolher as imagens que serão transformadas em enigmas.

De amor e trevas, Amós Oz

"Quando Dostoievski ainda cursava a faculdade, ele andava assaltando e matando pobres velhinhas?", mas sim se você, leitor, pode experimentar se colocar no lugar de Raskolnikov para desse modo sentir em sua própria pele todo o horror, o desespero, a humilhação maligna misturada à arrogância napoleônica, as alucinações megalomaníacas, o aguilhão da fome e da solidão, o desejo, a exaustão e a nostalgia da morte para que se possa então fazer a comparação (cujo resultado será mantido em segredo) não entre o personagem da história e os diversos acontecimentos da vida do autor, mas entre o per¬sonagem da história e o seu próprio eu, o seu eu secreto, perigoso, infeliz, louco, criminoso, é esse o ser ameaçador que você mantém sempre bem preso, bem no fundo, dentro de sua masmorra mais tenebrosa para que ninguém no mundo jamais suspeite, D'us o livre, de sua existência, nem seus pais, nem as pessoas que você ama, para que não fujam tremendo de medo de você, como fugiriam de um monstro horrível - e então, quando você lê a história de Raskolnikov, e você não é o leitor fofoqueiro, mas o bom leitor, vai poder trazer esse Raskolnikov para dentro de si próprio, para dentro dos seus porões, para os seus labirintos sombrios, para além de todas as trancas, para dentro da masmorra, e lá poderá fazer que ele encontre os seus monstros mais indecorosos, mais obsce¬nos, e assim poderá comparar os monstros de Raskolnikov com os seus próprios monstros, aqueles que na vida civil você nunca poderá comparar com nenhum outro, pois nunca os apresentará a nenhuma alma viva, nem mesmo em sussurros, na cama, ao ouvido de quem se deita com você à noite, para que o outro não arranque no mesmo instante o lençol e nele se enrole, e fuja de você aos gritos de horror. Assim Raskolnikov conseguirá diminuir um pouco a infâmia e a solidão do calabouço em que cada um de nós é obrigado a trancafiar em prisão perpétua o seu prisioneiro interior. Assim os livros poderão de alguma forma consolá-lo pela tragédia dos seus segredos mais vergonhosos: não só você, meu caro, mas todos nós somos um pouco como você; nenhum de nós é uma ilha, mas todos somos penínsulas rodeadas por quase todos os lados de água muito escura, e ainda assim ligados às outras penínsulas. Rico Done, por exemplo, no livro O mesmo mar, pensa acerca do misterioso Homem das Neves que perambula pela encosta do Himalaia:Aquele que nasceu de mulher carrega seus pais nas costas. Não nas costas. Na dívida. Por toda a vida deve carregar a eles e a toda aquela legião, os pais dos pais e os pais desses pais, boneca russa grávida até a última geração. Por onde quer que ele ande, está grávido de antepassados, deita-se grávido dos pais e grávido dos pais se levanta, grávido dos pais vai perambular bem para longe, ou fica no mesmo lugar.Noite após noite e ele divide o berço com o pai e a cama com a mãe, até chegar o seu dia.E você, não pergunte: o que é isso? São fatos reais ? De verdade? É isso que se passa com esse autor? Pergunte a si mesmo. Sobre você. E a resposta, pode guardar para si.”
Amós Oz, "De Amor e Trevas"

Esta foi uma generosa contribuição de C. para este blog. Complemento com um pedacinho da obra de Bellemin-Noel: "O poema sabe muito mais que o poeta."

20.10.06

"O PT inteiro tá aqui..."


Charge do Aroeira: http://odia.terra.com.br/especial/rio/aroeira/outubro.htm#

E, quem quiser, entrevista de Alckmin na CBN, onde ele falou esta pérola: "O PT inteiro aqui, hein?". O link é: http://radioclick.globo.com/cbn/.

Mas, para quem, compreensivamente, não tiver paciência, segue o resuminho que eu fiz: deu no 'The Economist' que os chineses estão invadindo o Brasil porque nós temos "memória inflacionária".... blablablabla... o PCC diminui o índice de homicídio em São Paulo (parece ser mesmo o que Alckmin pensa, já que, toda vez que alguém pergunta sobre o PCC é isso que ele responde)... blablablabla... "Vou cortar 80 bilhões sem fazer reforma da Previdência, aumentando 16% a aposentadoria e diminuindo impostos"... blablablabla... "A FEBEM ESTÁ MELHORANDO MUITO!!!" (esta é literal)... "SOU MAIS POBRE QUE O LULA" (literal também)... "Eu vou responder", "Eu vou responder": mas não responde é nada!

19.10.06

Como procede a oposição em eleição...

O executivo refém do legislativo...

Agora, do blog do Ilimar Franco: http://oglobo.globo.com/blogs/ilimar/

Uma contribuição à ingovernabilidade

Esse Raul Jungmann!

O fígado não é bom conselheiro político. O deputado da oposição, Raul Jungmann (PPS-PE), acaba de abrir um precedente que certamente afetará o atual governo, mas principalmente todos os futuros governos do país. O parlamentar está dando sua contribuição para tornar este país ingovernável e para amarrar o Poder Executivo.

Jungmann entrou na Justiça Federal para suspender a validade de uma MP que abria créditos extraordinários no Orçamento, no valor de R$ 1,5 bilhão. A juíza da segunda Vara de Brasília suspendeu a validade da MP. A juíza alegou, citando a Constituição: "créditos extraordinários só podem ser autorizados em casos extremamente urgentes e imprevisíveis".

A lição foi aprendida. A partir de agora quem for de oposição tem mais esta forma de luta. Entrar na Justiça Comum para impedir que o eleito pelo povo execute o Orçamento. Estes recursos certamente não vão mudar os rumos das eleições. Mas o retardamento de sua liberação pode ter desdobramentos práticos negativos para o país, sobretudo no caso das verbas para o combate à gripe aviária.

Mentirobrás, é?...

Do Blog do Josias: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/

Alckmin agora elogia Nakano e defende déficit zero

Definitivamente, os eleitores precisam tomar cuidado com a pregação dos candidatos. Deve-se evitar confundir discurso com densidade. Na semana passada, o economista Yoshiaki Nagano, cabeça coroada do programa econômico de Geraldo Alckmin, dissera que o novo presidente teria de cortar gastos, para conter o déficit público. Alckmin apressou-se em desdizê-lo. Foi enfático: "Não vai cortar. Isso não consta do meu programa".

Nesta quinta, em sabatina promovida pela Folha, Alckmin desdisse a si mesmo. "Eu estou plenamente de acordo com o professor Nakano. Nós vamos alcançar o déficit nominal zero. Se a gente vai fazer isso em 4 ou 6 anos, é uma questão de gestão."

Com a nova declaração, Alckmin tornou-se acionista da “Mentirobras”, a estatal metafórica que ele diz ter sido criada pelo petismo para produzir intrigas eleitorais contra ele. A lógica e a precariedade das contas públicas indicam que o Alckmin desta quinta é o autêntico. Portanto, o Alckmin da semana passada é um rematado mentiroso.

18.10.06

Sobre a privatização...

Lembrando apenas que, entre 1996 e 2001, o governo federal privatizou 68 empresas públicas, correspondentes à 75% do patrimônio nacional.

Para FHC, é arcaico debater as privatizações
Da Redação da Carta Maior

Nesta terça-feira (17), no entanto, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista à emissora de rádio CBN, deixou clara a visão que seu partido tem dos processos de privatização ocorridos no país – sinalizando a compreensão dos tucanos sobre o assunto. FHC não defendeu diretamente as privatizações do Banco do Brasil e da Petrobrás. Disse, inclusive, que era contrário à privatização desta última. Mas não teve nenhum constrangimento em comemorar o que aconteceu com a Companhia Vale do Rio Doce e com a telefonia do país “graças”, segundo ele, às privatizações.

“A Companhia Vale do Rio Doce é hoje uma das maiores do mundo. Ela não tinha recursos, por causa do endividamento do Brasil ela não podia aumentar o seu investimento nem seu endividamento; por causa das regras de licitação, sendo uma empresa pública, não podia ter agilidade. Olha o Conselho da Vale naquela época. Não quero entrar em nomes de pessoas, mas quem eram os que mandavam na Vale? Políticos... Bom, e os resultados, escassos. O que aconteceu? Foi privatizada. Diziam: “vai cair na mão dos estrangeiros”. Mentira. Hoje quem é dono da Vale são os funcionários do Banco do Brasil. A Previ mais o Bradesco. Hoje ela multiplicou seu valor por 10. Não porque valesse 10 quando foi vendida. Ninguém queria comprar. Foi uma dificuldade pra alguém comprar. Hoje multiplicou o seu valor por 10, está comprando empresas do exterior, é uma das maiores do mundo e paga de impostos ao governo federal muito mais do que jamais rendeu ao governo enquanto estava na mão do governo. Qual é o erro? Eu não entendo”, disse Fernando Henrique.

Os erros que o ex-presidente não entende, apontados por diferentes setores organizados – e não somente pela candidatura Lula – são tantos e de natureza tão diversas que há um ano, depois de movidas dezenas de ações populares contra a privatização da empresa, que acusam a União, o BNDES e o então presidente Fernando Henrique de crime de lesa-pátria, a 5ª Turma do TRF (Tribunal Regional Federal), de Brasília, decidiu que a privatização da Vale deveria passar por uma perícia técnica.

(...)

Em maio de 1997, a companhia foi a leilão e teve 41,37% de suas ações vendidas por R$ 3,34 bilhões. À época, a Vale era um complexo industrial com 54 empresas, maior produtora e exportadora de ferro do mundo, com concessão de duas das maiores ferrovias do planeta. Algumas avaliações deste patrimônio apontam para um valor de até US$ 1,5 trilhão.

A decisão judicial permitiu a retomada em todo o país da campanha pela reestatização da Vale, trazendo de volta para a população o debate sobre a privatização que é considerada uma das mais lesivas ao patrimônio público nacional. Em 1997, 70% dos brasileiros se disseram contra a privatização da Vale. Mas o governo dos tucanos fez questão de não ouvir. Hoje a companhia vale cerca de R$ 100 bilhões. Somente o lucro de seus dois últimos anos representa cinco vezes o valor pela qual a empresa foi vendida.

Há outros motivos para que se afirme que houve uma sub-avaliação do valor da empresa. Em 8 de maio de 1995, a direção da Vale informou a Securities and Exchange Comission que suas reservas lavráveis de minério de ferro em Minas Gerais totalizavam 7.918 bilhões de toneladas. No edital de privatização, porém, constou apenas 1,4 bilhão de toneladas. Em relação às minas de ferro da Serra de Carajás, a Vale informou que suas reservas eram de 4.970 bilhões de toneladas. O edital de privatização subtraiu 3,17 bilhões de toneladas, apresentando a reserva com apenas 1,8 bilhão de toneladas.

Mas os questionamentos ao processo não param na questão do valor da venda. O resultado do leilão causou surpresa. O consórcio Brasil, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional, de Benjamin Steinbruch, adquiriu o controle acionário da Vale. No entanto, o consórcio favorito era o Valecom, liderado pelo Grupo Votorantim, de Antônio Ermírio de Moraes, que contava com a participação da Anglo American, do Centrus (fundo de pensão do BC), do Sistel (fundo de pensão da Telebrás), da Caemi-Mitsui e da Japão-Brasil Participação (formado por 12 corporações).

Segundo os partidos que na época estavam na oposição, o governo FHC interveio no processo, impedindo que os demais fundos de pensão de estatais aderissem ao consórcio de Antônio Ermírio e optassem pelo consórcio de Steinbruch. Assim, juntos, CSN, Previ (o fundo de pensão do Bando do Brasil), Petros (fundo de pensão da Petrobrás), Funcef (fundo de pensão da CEF), Funcesp (fundo de pensão dos empregados da Cesp), Opportunity e Nations Bank (fundo) arremataram a companhia.

Em novembro de 1998, foram divulgadas gravações clandestinas de telefonemas na sede do BNDES entre autoridades do governo sobre o leilão da Telebrás, ocorrido meses antes. As fitas indicam o interesse do ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, e do presidente do BNDES, André Lara Resende, para que o Opportunity vencesse um dos leilões. Nas conversas, o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso permitiu que seu nome fosse usado para pressionar a Previ a entrar no consórcio liderado pelo Banco Opportunity.

No processo de privatização da Vale, empresas que haviam participado da avaliação da empresa tornaram-se depois associados na composição acionária da empresa privatizada, colocando todo o processo sob judice.

A defesa do governo federal para entregar a companhia foi a de que a privatização diminuiria o déficit fiscal brasileiro, que com a privatização o governo liberaria mais recursos e teria maior capacidade gerencial para a área social e que, com os recursos das privatizações, o governo brasileiro reduziria a divida do país. Alguns fatores, no entanto, foram “esquecidos”, como o impacto da privatização na classe trabalhadora. Em 1996, a Vale tinha 15.483 trabalhadores e, em 2000, esse quadro havia sido reduzido para 11.442. Mais de 4.000 mil trabalhadores ficaram desempregados. O PSDB continua, no entanto, não vendo nada de errado com o processo.

Continua no link: http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12562

17.10.06

Se alguém ainda duvida...

Edmilson Bruno: http://www.youtube.com/watch?v=1m2vWg8WS08

O clipping nosso de cada dia

Do site: http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/index.cfm?alterarHomeAtual=1

O medo e a mentira
Flávio Aguiar

"Os arautos da candidatura tucana na imprensa não ficaram repetindo o bordão da mentira, porque ele traz o ônus da prova. Mas passaram a bater no refrão do “medo”, do “terrorismo” que petistas viriam fazendo, acusando o candidato tucano antecipadamente de pretender privatizar tudo o que resta de privatizável: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobrás, etc.

Movido pela pressão, e na esperança de ganhar o apoio do PDT, o candidato tucano enviou carta onde, entre outros compromissos, trata do tema. As manchetes logo alardearam que a carta firmava compromisso em não privatizar aquelas empresas estatais. Entretanto a leitura da carta no site do PDT mostra que a expressão de fato usada foi a de comprometer-se a manter “o controle do Estado” sobre as empresas.

O modelo de privatização que ficou mais gravado do primeiro plano da memória popular foi o do leilão, como ocorreu no caso da CSN e da Vale do Rio Doce. Mas há outras maneiras de privatizar, como a de repartir uma empresa e vender partes dela; ou ainda vender ações, como era o plano em relação a Nossa Caixa (a Caixa estadual de S. Paulo) para tapar o rombo de 1,2 bilhão nas contas do governo estadual – rombo deixado pelo candidato tucano a seu sucessor. Medidas como esta passaram a se chamar de “robustecimento” da empresa, de “capitalização”, e outras expressões que “tucanam” a privatização.

O PT, é claro, tenta capitalizar o sentimento difuso que associa “gestão tucana” e “privatização”. Mas o que acusa o candidato tucano é sobretudo seu passado, em São Paulo, e o passado de seu partido nos oito anos em que ocupou, junto com o PFL, o Palácio do Planalto. Durante esse tempo tentou-se sim privatizar a Petrobrás. Chegou-se a mudar seu nome, numa atitude que não resistiu ao desagrado que provocou: de Petrobrás ela devia passar a se chamar Petrobrax."


A mídia e os novos cães de guarda
Marco Aurélio Weissheimer

Neste fim de semana, Veja fez uma nova denúncia. A Carta Capital também. Maioria da mídia escolheu repercutir a primeira. Comportamento da mídia brasileira no processo eleitoral atualiza reflexão de Serge Halimi, autor do livro “Os novos cães de guarda”. Segundo ele, a “censura é mais eficaz quando não tem necessidade de se manifestar, quando os interesses do patrão, miraculosamente, coincidem com os da “informação”.

"Ele descreve assim a lógica desse novo modelo: “A censura é mais eficaz quando não tem necessidade de se manifestar, quando os interesses do patrão, miraculosamente, coincidem com os da “informação”. Nesse caso, o jornalista fica prodigiosamente livre. E sente-se feliz. Como bonificação, concedem-lhe o direito de acreditar que é poderoso. Eufóricos com a brecha de um muro de Berlim que se abre para a liberdade e o mercado, soldadinhos deslumbrados pela armada americana que, por helicóptero, transporta para o Golfo Pérsico a guerra ‘cirúrgica’ e os cruzados do Ocidente, grandes advogados da Europa monetária no momento do referendo sobre Maastricht: repórteres e comentaristas recebem carta branca para expressar seu entusiasmo e poder”. Neste mundo, prossegue Halimi, “o jornalista deixou de ter qualquer autonomia” e só lhe resta “a possibilidade de exibir diante de seus confrades um ‘furo’ que provaria seus restos de poder”."

16.10.06

Carta Capital, a Grande Mídia, Edmilson Bruno, o Golpe II...

Primeiro, o link para a reportagem da Carta Capital: http://cmscotti.googlepages.com/fatos-ocultos.pdf

Agora, o link para a transcrição do conteúdo da conversa de Edmilson Bruno e jornalistas: http://viomundo.globo.com/site.php?nome=PorBaixoPano&edicao=343 (aposto que a mãe do Edmilson Bruno só deu este nome para ele porque achava que, algum dia, ele ia ser muito famoso; e não é que ela acertou???...)

Questões que ficam no ar: como as equipes de Alckmin e Serra já estavam em frente a delegacia antes mesmo da chegada dos presos? Por que Estadão, Folha e Globo publicaram as declarações de Edmilson Bruno de que tinha sido roubado quando sabiam que esta era falsa? Por que, até agora, não apresentaram a conversa gravada? A cada vez que surge, Edmilson Bruno aprofunda o enigma a sua volta: ele fez a prisão dos petistas a partir de uma dica anônima que, agora, torna-se, também, suspeita. Por que não se comenta que 70% das ambulâncias da Planam foram compradas pelo Ministério da Saúde ainda no governo anterior? Para esta informação, não se precisa de dossiê nenhum, basta olhar os dados. Por que, do dossiê, exibe-se apenas as fotos do dinheiro e não as imagens e extratos que também fazem parte dele? (Aqui, um pouquinho de manipulação subliminar: ninguém fala dossiê 'contra José Serra', mas fica numa coisa vaga, generalizada: dossiê contra tucanos...) Ninguém lembra que o procurador Mario Avelar, que pediu a prisão dos 'aloprados' em período eleitoral, é o mesmo que destruiu a candidatura de Roseana Sarney que, ironicamente, surgia, em 2002, como a candidata anti-lula. Ninguém lembra, tampouco, que Mario Avelar é também o mesmo procurador que pediu a prisão do diretor do Ibama e, depois, admitiu que não tinha provas o suficiente para fazer este pedido (mesmo comportamento que ele teve, agora, com Freud Godoy). Outra questão: a compra do dossiê, em si, não é um crime (quem não se lembra da Veja admitindo ter recebido um dossiê do orelhudo Daniel Dantas, não ter verificado suas informações - contas no exterior de Lula, Tomás Bastos, etc - e ainda assim ter publicado do mesmo jeito?). O crime se caracterizaria pela falsidade das informações - como ninguém quer falar das informações do dossiê, ninguém vai saber se elas são verdadeiras ou falsas - ou pela origem ilícita do dinheiro, o que parece ser o caso.


Agora, trecho de um artigo (http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/394501-395000/394778/394778_1.html)


O 1º GOLPE DE ESTADO JÁ HOUVE. E O 2º?
Paulo Henrique Amorim


Um golpe de Estado levou a eleição para o segundo turno.

É o que demonstra de forma irrefutável a reportagem de capa da revista Carta Capital que está nas bancas (“A trama que levou ao segundo turno”), de Raimundo Rodrigues Pereira. E merecia um sub-titulo: “A radiografia da imprensa brasileira”.

(...)


Na mesma edição da revista Carta Capital, ao analisar uma pesquisa da Vox Populi, que Lula tem 55%, contra 45% de Alckmin, Mauricio Dias diz: “ ... dois fatos tiraram Lula do curso da vitória (no primeiro turno). O escândalo provocado por petistas envolvidos na compra do dossiê da familia Vedoin ... e secundariamente o debate promovido pela TV Globo ao qual o presidente não compareceu.”

Quer dizer: o golpe funcionou.

Mino Carta, o diretor de redação da Carta Capital, diz em seu blog, aqui no IG (http://blogdomino.blig.ig.com.br/), que houve uma reedição do golpe de 89, dado com a mão de gato da Globo, para beneficiar Collor contra Lula. “A trama atual tem sabor igual, é mais sutíl, porém. Mais velhaca,” diz Mino.

Permito-me acrescentar outro exemplo.

Em 1982, no Rio, quase tomaram a eleição para Governador de Leonel Brizola. Os militares, o SNI, e a Policia Federal (como o delegado Bruno, agora, em 2006) escolheram uma empresa de computador para tirar votos de Brizola e dar ao candidato dos militares, Wellington Moreira Franco. O golpe era quase perfeito, porque contava também com a cumplicidade de parte de Justiça Eleitoral e, com quem mais? Quem mais?

O golpe contava com as Organizações Globo (tevê, rádio e jornal, como agora) que coonestaram o resultado fraudulento e preparam a opinião pública para a fraude gigantesca.

Que só não aconteceu, porque Brizola “ganhou a eleição duas vezes: na lei e na marra”, como, modestamente, escrevi no livro “Plim-Plim – a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral”, editora Conrad, em companhia da jornalista Maria Helena Passos.

Está tudo pronto para o segundo golpe.

O Procurador Avelar está lá.

Quantos outros delegados Bruno há na Policia Federal (de São Paulo, de São Paulo !).

A urna eletrônica no Brasil é um convite à fraude. Depende da vontade do programador. Não tem a contra-prova física do voto do eleitor. Brizola aprendeu a amarga lição de 82 e passou resto da vida a se perguntar: “Cadê o papelzinho ?”, que permite a recontagem do voto ?

E se for tudo parar na Justiça Eleitoral? O presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello já deixou luminosamente claro, nas centenas de entrevistas semanais que concede a quem bater à sua porta, que é favor da candidatura Alckmin.

E o segundo golpe? Está a caminho. As peruas da GW já saíram da garagem.

15.10.06

Musiqu-erotique...

...dolente por questão de estilo...
Paulinho da Viola, Bêba-do Samba

Lit-erótico...



Viver é um descuido prosseguido.
Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas

13.10.06

São Paulo, Outubro 2006

Sonho com uma decisão que seja, de fato, tomada. Uma decisão decidida. E não uma decisão empurrada do estômago para a boca e da boca para o mundo… Como diz Guimarães Rosa, entender desta 'gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder'.

Meio melancólica (a melancolia é mesmo meio-a-meio), percebo que a cidade não me estranha mais (a via é de mão dupla). Ando sozinha e sem muito receio. Tento parecer apressada, atrasada, corrida, mas não convenço. Estou absolutamente disponível, as mãos nos bolsos, o passo vago. Sou turista e ser turista é propiciar o acontecer da literatura.

Afinal, Pontalis fala que toda geração deve encontrar para si uma literatura que faça de todo o resto literatura. Há momentos, então, em que o mundo se faz literatura. Em Brasília, o Beirute à noite é expressão máxima disso: olhar quem passa por lá é abrir um livro e seguir sua trama. Os freqüentadores se transvestem em seus próprios personagens, ficções pessoais que se realizam para que aquela faceta mais interessante responda pela totalidade de sua pessoa. (Escolhas, como a escolha que eu faço neste blog). São dandies e vamps meio fajutos, militantes do rótulo moderno, mas todos válidos de se olhar a pequenez. Patéticos e deliciosos... exatamente como eu.

Um mundo para ser lido é um mundo para ser escrito.

Sento neste café e fico curiando as pessoas (curiosidade em forma de verbo, um vocábulo da minha infância). Espero o começo do filme, o maître briga com o gerente, ouço a conversa das pessoas do café, um senhor destrata a moça do caixa, mas se desfaz em delicadezas para com sua filha adolescente, escrevo de trás para a frente do caderno. Quero prolongar este momento para sempre, apesar de ser um momento bobo, um momento trivial, besta demais gritam minhas raízes mineiras. Em Brasília também há cafés e cinemas e gerentes que brigam com maîtres e cadernos que se escrevem ao contrário. Mas quero estar aqui. Qual o fascínio de um outro lugar?...

Entro no cinema e embarco, sem saber, num filme de três horas. Durmo a primeira hora inteira, sem pudores ou arrependimento. Meu sono se mescla ao filme. Meu sono faz parte da experiência do filme. Tenho um sonho em preto-e-branco para acompanhar um filme monocromático (monocromáticos psíquicos, leio no artigo). Quando saio, a cidade foi lavada de cinza pela chuva, para acompanhar meu sonho.

Este blog mesmo é meio fajuto.

O que eu gostaria, deste blog, é que ele apresentasse uma qualidade específica, uma certa ‘essencialidade’, que não se deixasse levar por jogos de palavras banais, por constatações superficiais, que não se sustentasse em pequenos narcisismos imaginários. Que me acompanhasse no que me tem acontecido: alguns disfarces, por mais amados que sejam, acabam por cair; alguns enigmas, até então ignorados, emergem como possessões. Gostaria que também minha escritura tivesse esta qualidade de silêncio, crueldade e aceitação. Como se, ao contrário de ler as linhas do destino na palma da mão, lêssemos as veias, finas e arroxeadas, logo abaixo da pele mais transparente. Lidas tais veias, as linhas da palma da mão se desarranjam para sempre e pele, destino e personalidade, últimas fortalezas do narcisismo, se vão.

A alergia continua. Acordo todos os dias com cara de ressaca: nariz vermelho, olhos inchados, olheiras enegrecidas (o pó da fuligem se acumula sobre os móveis e sobre as concavidades do corpo). Sou proibida, por medida de segurança, de usar minhas estrelinhas vermelhas no peito. A cidade também parece ignorar as eleições. Atravessando a rua, ouvimos um grito desarranjar (estou apaixonada por este verbo, agora) a tranqüilidade do domingo. Do outro lado da rua, um homem cai, num ataque epiléptico. Os passantes desviam o passo, um carro pára de qualquer jeito e alguém desce para ajuda-lo.

Mais um tropeço na Paulista e volto para casa com o tornozelo torcido, meio mancando no aeroporto Juscelino Kubitschek...mancada, manquer, demi-manquer?..

9.10.06

Sobre o debate II

O debate do debate
Flavio Aguiar


Na verdade, mais importante do que discutir quantos graus Lula ficou nervoso com a pergunta sobre a origem do dinheiro, foi observar que na verdade ele demonstrou um ponto fraco em seu governo (não em sua pessoa) na questão da saúde, que ficou pendente. Sobre a origem do dinheiro Lula deu a resposta conceitualmente correta, a de que ele é o Presidente da República e não o delegado de plantão.

Sobre Alckmin, importa menos o disparate falado sobre a compra do avião da presidência (e a sua venda para construir quatro hospitais, o que beira a piada) do que a concepção completamente autoritária de governo que ele revelou manter. Alckmin cobrou uma postura arrogante em relação à Bolívia, embora seu partido pregue uma postura subserviente aos Estados Unidos em relação à Alca. Mais grave, demonstrou profunda e autêntica insatisfação com os procedimentos jurídicos que visam garantir os direitos humanos em relação a prisões de jovens e defendeu um “aperfeiçoamento” do ECA na direção autoritária, lembrando mesmo uma pessoa que tem saudades dos ritos sumários do tempo da ditadura. Pior ainda: defendeu o escândalo que é o sistema penitenciário do Estado de S. Paulo, com o bordão de que retirou os criminosos das ruas, só esquecendo de se referir a que seu governo transformou as prisões em centrais do crime.

No campo das propostas, Alckmin formulou pouquíssimas propostas, ficando no campo dos “genéricos”, que são expressões como “eficiência”, “choque de gestão”, chegando a falar em combate à corrupção como parte de “corte de gastos”, o que é uma frase de efeito sem efeito nenhum, porque o que importa é discutir como melhorar o que o governo de Lula já fez, que foi aparelhar melhor – do ponto de vista de efetivo e do aparato conceitual – a Polícia Federal e liberar o Ministério Público das amarras com o Executivo.

Por último, vale notar que no fim de contas o “tom” de um desempenho também revela um conceito. E nisto Alckmin, mesmo que não quisesse, revelou novamente seu vezo autoritário. Excedeu-se no tempo muitas vezes; manteve o tom de “ponha-se no seu lugar” o tempo inteiro, demonstrando que seu decoro é o da Casa Grande. Neste ponto Lula talvez tenha hesitado demais, pois ninguém pode se dirigir ao Presidente da República na base do “você mente”, “não minta”, etc. Na primeira vez Lula já deveria ter pedido o direito de resposta, pelo menos para sinalizar que nesse tom um debate não pode nem deve prosseguir.

Mas talvez não haja mesmo a possibilidade de um debate. O mundo que Alckmin projeta para seu governo é tão diverso daquele em que Lula vive, que os pontos de contato (que permitem na verdade o confronto) em termos da situação em que estamos, são de fato quase inexistentes. O autoritarismo do primeiro fica evidente até na promessa feita de que não vai privatizar a Petrobrás, nem a Caixa Econômica Federal, nem o Banco do Brasil. É demais exigir que a gente acredite nisso, vindo de quem acabou de privatizar a linha 4 do Metrô de S. Paulo antes que ela exista e deixou pronto o plano de vender à iniciativa privada ações da Nossa Caixa estadual para cobrir o rombo de 1,2 bilhão nas contas de S. Paulo.

link: http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12488

Sobre o debate...

Não consegui assistir o debate. Estávamos no avião, voltando para Brasília no mesmo horário. Consegui ouvir alguns trechos dos blocos através do site da band. Me pareceu que Alckmin tenha, de fato, “ganho” o debate, mas falo mais sobre isso mais adiante.

A cada grupo consultado a opinião diverge em 100% e não é possível achar nenhum ponto em comum. Os petistas acreditam que Lula se saiu melhor e que Alckmin foi demagógico e grosseiro. Os alckmistas acham que seu candidato arrasou e que Lula se mostrou nervoso demais e inseguro (vou omitir os adjetivos preconceituosos). Acho que as duas avaliações estão certas. Alckmin foi, de fato, demagógico ao falar sobre o Aerolula: vender o avião e fazer 4 hospitais?!?! É assim que ele quer resolver o problema da saúde no país? E ele vai andar de quê? Varig!?!? E foi grosseiro perguntando sobre os gastos pessoais de Lula e de sua família (o tal cartão criado pelo FHC). Lula, mesmo os alckmistas devem admitir, foi elegante ao não rebater isso falando dos vestidos de dona DasLu Alckmin. De outra mão, Lula não estava tão preparado quando deveria (nem ele imaginava o grau de agressividade de Alckmin), não conseguiu defender seu governo, se embananou em alguns momentos e também não foi favorecido pelos sorteios que deram a Alckmin a prerrogativa das perguntas (claro que isso não justifica seu desempenho – ele deveria previr isto também).

Como eu disse me parece que, fazendo as contas de bloco a bloco – ou round a round – Alckmin tenha ‘ganho’ o debate de maneira geral. Não porque tenha se saído ótimo, mas foi favorecido por Lula não ter debatido a altura de sua capacidade, demonstrada em discussões em outras eleições. (Um pouco como o resultado das eleições de domingo). Quem esperava um debate neste segundo turno, que mostre as diferenças de proposta para um possível governo 2006-2010, se deu mal. O que vamos ver é o maior quebra-pau: porrada de um lado e de outro. E Alckmin vai ser, de fato, ‘samba de uma nota só’, e Lula não tem nada que reclamar disso, faz parte do jogo da política, o que ele precisa fazer é ser capaz de demonstrar o potencial para um segundo mandato a partir das realizações do primeiro.

A questão mais importante, mais importante até do que quem ‘ganhou’ ou não o debate é: isso altera a divisão do espólio Cristovam-HH? Se altera, é como? Afinal, quem chegou até esta altura do campeonato lulista ou alckmista não vai mudar seu voto por conta de um debate. Este debate é para os indecisos, em primeiro lugar, e para os paulistas, de maneira secundária. E não é, na minha opinião, a avaliação global do debate que vai interferir no voto, mas momentos específicos do debate. Alguma proposição feita por um candidato num momento específico que faz o eleitor identificar-se ou perceber ganhos possíveis no futuro, é a postura de um candidato ou de seu oponente, uma palavra aqui, uma expressão ali. Os debates não são racionais ou mesmo acurados (os dois candidatos apresentaram dados numéricos errados). Política, desvendou Gilberto Gil, é também questão de afeto. Por isso, acho um erro Lula ter faltado aos debates no primeiro turno. Por mais carniceira que estivesse a corrente de seus três oponentes, ele deveria ir para mostrar-se.

Segue abaixo o link para duas análises do debate que achei muito boas: a do blog do Josias, da Folha (ele é pró-Alckmin) e da Tereza Cruvinel, no Globo (até agora, a mais isonômica dos comentaristas do Globo). Coloco também o link para o Blog do Alon, com a análise da situação política dispersa em vários tópicos.

Blog do Josias: Alckmin venceu por um ponto?
link: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2006-10-08_2006-10-14.html#2006_10-09_00_58_56-10045644-0

Tereza Cruvinel: Saiu fumaça
link: http://oglobo.globo.com/blogs/tereza/

Blog do Alon: Alckmin tentou ser Heloisa Helena
link: http://blogdoalon.blogspot.com/

3.10.06

E aí, tucanada?...

Do Estadão on line, hoje:

"A contagem geral dos votos divulgada pelo TSE indica que o PT atingiu a maior votação de todos os partidos para deputado federal. Ao todo, foram 13.989.859 votos. Em segundo lugar aparece o PMDB, com 13.580.517 votos, seguido por PSDB (12.691.043) e PFL (10.182.308)."

(Estou rindo até agora... que isso seja uma lição para quem conseguir lê-la.)

Para rir um pouco...

Entrevista com o terceiro candidato mais votado para deputado federal em São Paulo: Clodovil Hernandes

G1 - Se recebesse uma proposta de mensalão, para receber R$ 30 mil por mês para votar a favor do governo, o que diria?
Clodovil - R$ 30 mil é tão pouco... Se ainda fossem uns US$ 30 milhões. Por R$ 30 mil vender um país, você está louco. Cada um pesa o dinheiro na sua balança. E a minha precisa de muito dinheiro.

G1 - Então não é uma questão de honestidade, mas do tamanho da cifra?
Clodovil - Mas isso é qualquer ser humano. Não vou me sujar por pouco. Vou me sujar por alguns milhões de dólares, é claro. Pego esses milhões de dólares e faço a benemerência que eu quiser. E dane-se a retranca. Não tenho filho, não tenho amante, não tenho mulher, não tenho nada. Isso não é desonestidade. Isso é oportunidade. Agora, vender um país por 30 paus é demais para a minha cabeça.

G1 - Isso seria considerado ilegal. Receber dinheiro público para votar com o governo, por exemplo, seria considerado corrupção...
Clodovil - Claro que eu sei. Não sou analfabeto. Você acha que eu vou chegar lá e encontrar São Francisco de Assis? Mude primeiro de mentalidade. Quem está lá é brasileiro como você. Não são gregos e troianos.

G1 - De que forma viria a mudança? O Sr. se propõe a chegar lá e aprender com os colegas...
Clodovil - Colega não, porque quem tem colega está preso.

G1 - O senhor gosta de Brasília?
Clodovil - Fui a Brasilia várias vezes. É uma cidade diferente. Lá não tem esquina.

(Este blog está acabando comigo, com as horas reservadas para a dissertação. Toda esta militância virtual... Mas, enfim, este será, sem dúvida, o ritmo até o dia 29/Out.)

Razão pela qual o PT deve ser refundado...

Uma opinião

Democracia é maior que qualquer um de nós (artigo publicado na Folha de S.Paulo em 01/10/06)

Eleição não é luta do bem com o mal. É comparação. Voto em Lula porque, a meu ver, seu governo melhorou o Brasil. Ele recebeu o país com uma agenda ditada pela direita, que reduzia quase tudo à política econômica, ou pior, à monetária e à fiscal; um país que, no fim de 2001, não cumpria mais o Orçamento, sem dinheiro nem para pagar passagens de ministros, com o dólar a R$ 4 e um risco-Brasil enorme. Ora, o governo de centro-esquerda foi capaz de acalmar a economia, de baixar o risco, de aumentar as exportações, enfim, de cumprir uma agenda econômica que não era sua prioridade, nem a dos movimentos populares, e isso sem privatizar nada, sem desfazer o patrimônio público.

Mais, ainda: Lula colocou na política brasileira, de modo definitivo, uma agenda social importante. E com êxito. Segundo Maria Inês Nassif ("Valor Econômico", 24/8), o maior rigor em programas como o Bolsa-Família e os do Ministério das Cidades "desintermediou o voto da população pobre, que antes passava pelo chefe local". Se isso é certo, não há paternalismo na atual política de promoção social. Não adianta ficar inventando que Lula se proclamou "pai dos pobres". Alguns jornalistas dizem isso, mas nunca informam quando o presidente teria usado uma linguagem tão contrária a suas crenças para se referir a si próprio. Tudo indica que há menos paternalismo agora do que antes.

É engraçado: quando se banhava de dinheiro o grande capital (empréstimos do BNDES a juros baixos para privatizar estatais), a opinião dominante chamava isso de progresso, mas, quando se dá dinheiro aos mais pobres, para comerem e se vestirem melhor, a mesma opinião dominante entende que dinheiro nas mãos de pobres não presta.

Discordo disso. Quero uma sociedade democrática. Isso significa, em primeiro lugar, o fim da miséria, a redução da desigualdade social.

No horizonte político brasileiro, não vejo força melhor que a coligação de esquerda para promover esse salto qualitativo. Ela tem sido capaz de melhorar as condições sociais com uma temperatura baixa de conflitos, ao contrário do que diziam seus detratores. O país não pegou fogo. O saldo do governo é positivo: a questão social está sendo bem orientada.

Agora vamos à questão ética. No governo atual o procurador-geral não engaveta processos, a Polícia Federal age, CPIs funcionam. Já seu principal adversário impediu 60 CPIs de funcionar na Assembléia paulista, deixou uma política de segurança prepotente e ineficaz (porque acabamos sob o domínio do PCC) e uma política de educação que não é das melhores. Eleição é comparação. Não vejo no governo Alckmin superioridade ética sobre o governo Lula.

Contudo, há satisfações que o PT deve à sociedade. Os escândalos mostram que ele é um partido mais "normal" do que imaginava ser. Humildade não faz mal. O PT tem seus defeitos. Deve contas ao Brasil. Tem de fazer uma faxina interna e punir quem errou. Mas, ainda assim, consegue governar melhor que os outros. Aliás, seria bom o país todo fazer um exame de consciência. Com o financiamento privado de eleições, a porta se escancara para a negociata. Deveríamos priorizar em 2007 a reforma política, com fidelidade partidária, condições mais equilibradas de financiamento às candidaturas e talvez até o voto distrital.

Uma eleição não é uma guerra. Amanhã e sempre, teremos de conviver, quem votou em Lula ou nos outros candidatos. Precisa cessar o terror discursivo, a ameaça ao voto universal. Este é o segundo ponto em que desejo uma sociedade democrática. Democracia significa respeitar o discurso do outro. Nas eleições, as pessoas se exaltam, mas é desonesto deformar o que o outro disse. Muito do que hoje se conta sobre o PT ou sobre quem o apóia, como eu, é uma enorme caricatura. Isso amesquinha a política, que deve ser arena de adversários, não de inimigos.

Esse clima envenenado não ajuda o de que mais precisamos, não nós da esquerda, mas nós brasileiros: construir alianças, trabalho em conjunto, convergências. A sociedade é maior que a política. O Brasil é maior que os partidos. A pequena ambição não pode erodir nossas oportunidades.

Podemos enfrentar a miséria, melhorar a educação e a saúde, integrar os excluídos. Penso que Lula é o mais adequado, hoje, para dirigir o governo neste rumo mas penso também que este tem de ser um projeto de sociedade, e não apenas de governo. Não estamos, hoje, terceirizando a solução de nossos problemas. Estamos elegendo o mais apto a dirigir um esforço que deve ser maior do que ele e do que qualquer um de nós.

RENATO JANINE RIBEIRO , professor de ética e filosofia política na USP, é diretor de avaliação da Capes e autor de, entre outras obras, "A Sociedade Contra o Social - O Alto Custo da Vida Pública no Brasil" (Companhia das Letras)

Depois da Globo, a Folha de São Paulo

FRIAS: DA TORTURA AO GOLPE MIDIÁTICO
Altamiro Borges

"Entre o Otávio [Frias Filho, diretor da Folha de S.Paulo] e o Roberto [Civita, diretor da revista Veja] é um páreo duro para ver quem é o mais imbecil" (Mino Carta).

A pregação do golpe midiático

Com a eclosão da crise política em maio do ano passado, a Folha de S.Paulo virou um palanque da mais contundente oposição. Ela chegou a fazer coro com os hidrófobos do PFL na proposta do impeachment de Lula, numa autêntica pregação do golpe midiático. Um atento comerciante paulista, Eduardo Guimarães, teve a paciência de acompanhar as manchetes deste jornal em setembro passado. Elas foram arroladas no seu blog na internet (www.cidadania.com) e impressionam pelo alto grau de manipulação. "As mensagens desfavoráveis para o candidato Lula são a maioria esmagadora... Já os adversários de Lula, sobretudo o principal, Geraldo Alckmin, foram totalmente poupados. Esse é um fato incontestável".

As conclusões do comerciante foram confirmadas por dois institutos que monitoram sistematicamente a imprensa: o Datamídia, da PUC-RS, e o Observatório Brasileiro da Mídia, filial do Media Watch Global. O primeiro identificou que, entre 13 e 19 de julho, a Folha dedicou 778 centímetros/coluna de texto com tom positivo para Alckmin, enquanto Lula teve, no mesmo período, 562 centímetros/coluna de mensagem positiva. Já o Observatório pesquisou os principais jornais e revistas de julho a agosto, incluindo a Folha, e constatou que o Lula foi retratado de forma negativa em 47,41% das matérias, contra 31,2% em que foi tratado positivamente. No caso de Alckmin, a situação se inverte: 44,56% favoráveis e 31,42% negativas.

Apesar desta descarada manipulação, todas as sondagens eleitorais ainda apontavam a vitória de Lula no primeiro turno para o desespero dos "deformadores de opinião" da mídia. A "operação burrice" de alguns petistas afoitos, que tentaram comprar o dossiê da "máfia das sanguessugas", apenas realimentou o sonho da direita de forçar o segundo turno. É neste contexto que se encaixa o odioso artigo do diretor de redação da Folha citado acima. O tiroteio deste jornal na última semana é devastador. Manchetes sensacionalistas e centenas de matérias, até na seção de esporte, visam satanizar o presidente e apelar para o imperativo do segundo turno, "pelo bem da democracia". A pesquisa do Datafolha inclusive foi antecipada, contrariando a Lei 9.504 que disciplina as eleições, para dar a impressão da inevitabilidade do segundo turno.

A distorção da Folha de S.Paulo é tão evidente que até seu próprio ombudsman, Marcelo Beraba, teve de registrá-la envergonhado. "O fato de considerar a conspiração para a obtenção do dossiê mais importante do que o dossiê não significa que eu esteja de acordo com o pouco empenho dos jornais na apuração das denúncias contra Serra e Barjas Negri [dois ex-ministro de FHC envolvidos na compra superfaturada de ambulâncias]. Uma cobertura não anula a outra" (FSP, 24/09/06).

Na prática, a empresa de Otávio Frias Filho, o yuppie Otavinho, que no passado cedeu suas caminhonetes para o transporte de presos políticos, hoje prega abertamente um golpe midiático. Esta conduta golpista, seguida pelo grosso da mídia, deveria servir ao menos para acabar com as ilusões sobre o papel imparcial dos meios de comunicação no Brasil."

Isto é apenas um trecho do artgio. No link do "Fazendo média", pode-se encontrar toda a história da Folha, inclusive sua participação vergonhosa de apoio à Ditadura.

A Opção da Mídia

Globo silencia diante do crime de vazamento das fotos do dinheiro
Bia Barbosa

"Jornalistas ouvidos pela Carta Maior neste sábado informaram que três jornais, uma emissora de rádio e a TV Globo possuem a gravação da fala do delegado Edmílson Pereira Bruno no momento em que ele entregou aos repórteres o CD com as fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal. Na fita, o delegado diz “tá aqui. Agora vamos f... o governo e o PT” e informa à imprensa que, dali, iria forjar um boletim de ocorrência para justificar o suposto “desaparecimento” do CD com as imagens.

Em reportagem do Jornal Nacional deste sábado (30), o repórter César Tralli informa que o delegado afirmou que não divulgou as fotografias por vingança, mas por se sentir prejudicado pela Polícia Federal por ter feito as prisões daqueles que tentaram vender o dossiê contra José Serra e depois ter sido afastado do caso.

(...)

Mas, segundo garantiu um funcionário da TV, a direção da Globo recebeu na tarde de sexta, mais de 24 horas antes, a fita que comprova as claras intenções políticas do delegado Bruno e sua iminente fraude de um boletim de ocorrência. Por que então não questionou a fala do delegado? Por que não colocou no ar a gravação com a sua declaração? Por que disse aos telespectadores que não sabia das intenções do delegado da PF?

Ao saber das intenções políticas do delegado, que não poderia divulgar as imagens, e que ele forjaria um boletim de ocorrência – ou seja, que um alto funcionário da Polícia Federal, com objetivos eleitorais, estava a caminho de cometer um crime – a única coisa que os jornalistas que receberam as fotos foram capazes de fazer foi se calar. A imprensa justificou a divulgação de imagens que quebraram um sigilo de justiça com base no interesse público. Mas “esqueceu” que também seria de mesmo interesse público informar seus leitores, ouvintes e telespectadores do crime que estava por trás deste “vazamento”."

A reportagem continua no link: http://cartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12406

[Comentário meu: se as redações receberam as fotos, seu dever é publicá-las; mas, a partir do momento em que foi o delegado que repassou estas fotos, a imprensa deveria identificar esta fonte uma vez que não deixa de ser um delito de vazamento de informação (a análise é do Alberto Dines, do 'Observatório da Imprensa'). Se o delegado ainda comunicou que iria cometer um delito - forjar uma ocorrência de roubo - isso também deveria ser revelado. Ora, quantas vezes, neste país, não foi necessário um vazamento de informação para que a população soubesse o que acontecia na ditadura? Quantas vezes não foi imprescindível manter uma fonte anônima para sua própria segurança? O problema é: não vivemos mais num Estado de Exceção, vivemos num Estado de Direito, onde a mídia também deve estar sob as regras que regem a nós todos.

Retomemos apenas o caso deste tal delegado: primeiro, afirmou que haveria um outro dossiê, ainda maior, com duas mil páginas até ser contradito pelo delegado responsável; depois chegou a insinuar que os petistas teriam caído numa arapuca feita pelos tucanos, uma vez que já - afirma o delegado - havia uma kombi com assessores de imprensa do PSDB na delegacia antes mesmo das notícias das prisões; além do próprio episódio do vazamento das fotos, em que, primeiro, ele dissse não ter sido fonte - reclamou indignado, diga-se de passagem -, depois assumiu que tinha sido ele mesmo mas tampouco revelou a extensão do caso, disse que revelaria suas 'razões' apenas no inquérito instalado pela polícia.

Eis o comentário de Tereza Cruvinel que, mesmo trabalhando no Globo, tem demonstrado uma isenção e isonomia admirável neste processo todo. Ela e Franklin Martins de todos estes analistas ou jornalistas-blogueiros:

"O delegado Bruno desde o início é suspeito dentro da instituição. A PF não montou uma operação, daquelas que têm nome engraçado para prender a compra e venda de dossiê. Havia escutas mas houve um telefonema anônimo, o delegado Bruno estava de plantão, seu colega de Mato Grosso prendeu o parente do Vedoim no aeroporto e ele foi prender os dois petistas no hotel. Foi afastado do caso porque desde o início, segundo fonte minha na PF, o comando da instituição achou a operação atípica. Mas não há provas de que ele participava de uma trama para pegar petistas tontos caídos em arapuca. Agora, surge, sim, evidência de uma transgressão dele. Se ele disse mesmo aos jornalistas a quem deu os CDs de fotos que iria lavrar um boletim de ocorrencia falso dizendo que o CD original foi roubado de sua sala, confessou delito. E os colegas, se ouviram isso, ficaram numa saia justa. O Off garante o segredo da fonte, no interesse do público. Mas e se a fonte está incorrendo em delito? Denuncia a fonte? Por outro lado, eles queriam a notícia do dia, embora ela interessasse à oposição, era notícia. Complicado."

Link do blog de Tereza Cruvinel (lembrando, a única a pular fora do barco furado de comentarista de Jô Soares) é: http://oglobo.globo.com/blogs/tereza/]

2.10.06

Argumentos


Eu tenho argumentos numéricos para minha escolha nas eleições. Como eles são bem longos (as comparações entre os 8 anos FHC e os 4 de Lula ou os números da 'gestão' Alckmin em São Paulo), apresento este outro argumento, talvez ainda mais eloqüente.

Entrevista com Lula

A entrevista de Lula:

- Como presidente da República, parabenizo o eleitorado brasileiro pela paz com que transcorreu a eleição ontem. Parabenizo o processo de votação. Outros países poderiam copiá-lo. Parabenizo também a Justiça Eleitoral pelo rigor com que se comportou. A campanha se deu de forma civilizada. Parabenizo os partidos políticos. Isso mostra ao mundo que o processo democrático brasileiro está consolidado.

- Agora, como candidato, agradeço aos eleitores que votaram em mim. Logicamente todos os candidatos gostariam de ganhar a eleição em primeiro turno - mas nem sempre a sabedoria popular permite isso. Teremos doravante uma campanha eleitoral mais justa. Poderemos debater os problemas do Brasil, o que fizemos ou nos propomos a fazer.

- O segundo turno é importante porque torna mais previsível a escolha dos eleitores. Será um segundo turno mais esclarecedor.Vocês sabem que estou extremamente feliz com a vitória do companheiro Jaques Wagner na Bahia. A vitória do Marcelo Deda em Sergipe é outra coisa importante. Eram dois Estados governados pelo PFL. E o PT ganhou nos dois.

- Eu me coloco à disposição de vocês para responder a cinco ou a seis perguntas de forma organizada. Porque tenho que ganhar tempo para cuidar da minha campanha.

Agência Reuters - O senhor se arrepende de não ter ido ao debate? Quais as alianças políticas que perseguirá?

Lula - Se eu tivesse uma bola de cristal para saber o que me daria mais ou menos votos eu faria o que teria me dado mais votos. Agora, não. O debate será mais ágil. Será um candidato contra outro. Será mais esclarecedor. Não tenho pesquisa para mostrar se eu deveria ter ido ou não ao debate. Agora, os aliados estão mais previsíveis. Serão dois candidatos aos governos estaduais (onde haverá segundo turno). Um escolherá um, outro escolherá outro (candidato a presidente). Vamos definir nossas alianças políticas. Em Pernambuco, vou apoiar Eduardo Campos e sei que ele irá me apoiar. A coordenação política entrará em contacto com essas pessoas e saberei depois. Eu soube que ela (Heloísa Helena) liberou seus eleitores para votarem em quem quiser. É uma sóbria decisão. Isso já aconteceu com o PT. Mas os eleitores já estão tomando posição.

O Dia, do Rio - No caso do Rio, o senhor se dispõe a conversar com o pessoal do PMDB que apóia Sérgio Cabral?

Lula - Eu já conversei com Sérgio Cabral esta manhã. Não medirei esforços para que o Crivella (Marcelo, do PL) apóie Cabral. Terei prazer de ir ao Rio fazer campanha com Sérgio.

Folha de S. Paulo - O senhor compartilha a visão de que o dossiê (dos chefes da Máfia dos Sanguessugas contra políticos do PSDB) e a exploração das fotos (do dinheiro arrecadado pelo PT para a compra do dossiêl) contribuiram para o segundo turno?

Lula - Havia uma pressão da sociedade para que houvesse segundo turno. Se é uma coisa que gostamos de fazer, Alencar (o vice) e eu é campanha. Quanto ao que nos levou ao segundo turno... Ainda não sei. Vamos disputar o segundo turno com a mesma força que disputamos o primeiro. (...) Todo político se queixa da imprensa. O dado concreto é que ela tem um papel muito importante na consolidação da democracia. Tudo tem de ser mostrado. Tinha a fotografia (do dinheiro) e ela tinha de ser mostrada a qualquer hora. Ma tem um mistério nesse dossiê... Quero saber quem arquitetou essa engenharia (a montagem e compra do dossiê pelo PT) para nos tirar o pé... Se fosse nos Estados Unidos alguém estaria fazendo um filme a respeito.

Rádio Jornal do Commercio, Pernambuco - O que se diz é que o senhor vai se vestir como candidato dos pobres e tentar vestir Alckmin como o candidato dos ricos. Vai?

Lula - Se fosse assim eu já teria sido eleito. Governei para pobres e ricos. Se alguém quer dividir os candidatos... A luta me fez chegar à presidência da República. A sociedade brasileira, a cultura brasileira não permitem essa divisão... (...) Quando os dados mostram que tiramos pouco mais de 19% dos brasileiros da pobreza, todos ganham - eles, os pobres, e os ricos. Todos ganham com um processo de produção de riqueza contínuo. Vou continuar privilegiando os mais necessitados. Por isso que tenho política de desenvolvimento para o Nordeste que durante muito tempo ficou esquecido.

Folha Online - O que o senhor acha da volta à política de pessoas do seu partido acusadas (em escândalos)?

Lula - O voto é soberano. O povo votou. Não importa se gostei ou não. Não tive maiores problemas com o Congresso. Aprovamos 90% das coisas que mandamos para o Congresso. Eu sempre disse que quem não deve não teme. Tivemos três CPIs funcionando. Vocês não me verão como presidente da República empenhado em evitar CPI. Muita gente acha que isso é confusão. Não é. É democracia. Pior teria sido se o presidente tivesse tentado interferir. Como em São Paulo interferiu... Repito: quem não deve não teme... Quanto às pessoas (acusadas): não sou eu que vou questionar o voto de ninguém. Vejam o Collor. Ele voltou. Estava afastado há 14 anos. Com a experiência que tem poderá, se quiser, fazer um trabalho excepcional.

TV Globo - O senhor disse que o caso do dossiê foi um tiro no pé. O senhor culpa o PT?

Lula - Eu não posso culpar o PT que é muito grande. Quando você negocia com bandidos está sendo tão bandido quanto eles. Eu peço a Deus que tudo seja esclarecido. A Polícia Federal tem autoridade para fazer investigações sérias. (...) Se eu me licenciar do cargo, Alencar terá de assumir. E ele será muito importante em Minas Gerais. Vamos continuar governando. Você nao precisará mais fazer tanto esforço físico no segundo turno. O tempo de televisão será igual. Dá para governar e fazer campanha.

Por que o senhor não venceu no primeiro turno?

Não venci porque não venci. Faltou voto. Não tem eleição ganha. Embora eu respeite muito pesquisa, não levo pesquisa ao pé da letra. Ela é uma fotografia do momento. (...) Faltou voto para a gente ganhar no primeiro turno. Não faltará para vencer no segundo.

Coadjuvante da direita?...

O Destino da Esquerda
Flavio Aguiar


Ontem eu assistia os debates na Band quando vi uma cena muito interessante. Quem debatia com os jornalistas era Plínio de Arruda Sampaio, com aquele seu simpático jeito de Papai Noel que emagreceu. Falava da possibilidade de se estabelecer alguma forma de diálogo entre (setores do) PSOL e PT neste segundo turno das eleições presidenciais. De repente entrou em cena o Senador Sérgio Guerra, coordenador da campanha de Alckmin e Plínio foi literalmente deixado de lado pelos jornalistas, que só foram se dar conta da descortesia ao final do programa, quando deram 30 segundos para o candidato do PSOL em S. Paulo finalizar sua intervenção que fora truncada.

A cena foi emblemática e sinaliza um desafio para todas as esquerdas, inclusive a esquerda da esquerda: se elas não recompuserem uma frente comum a partir de agora, em função da reeleição de Lula na disputa federal e dos candidatos progressistas nas disputas estaduais, é isto que nela vai virar: coadjuvante de tucano. A esquerda – toda ela – regressará ao tempo em que críticos de cinema nada politicamente corretos diziam que no faroeste índio era parte do cenário.

Continua no link: http://cartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12412

Agradecimento àqueles que ajudaram a construir o resultado de domingo

Ladainha da gratidão

A direita agradece: obrigado Heloísa, obrigado Cristovam Buarque
ACM agradece: obrigado Heloísa Helena, obrigado Cristovam Buarque
FHC agradece: obrigado Heloisa Helena, obrigado Cristovam Buarque
PFL agradece: obrigado Heloisa Helena, obrigado Cristovam Buarque
PSDB agradece: obrigado Heloisa Helena, obrigado Cristovam Buarque
Vendilhões da pátria agradecem: obrigado Heloisa Helena, obrigado Cristovam Buarque
Elites agradecem: obrigado Heloisa Helena, obrigado Cristovam Buarque
"Coronéis" do Nordeste agradecem: obrigado Heloisa Helena, obrigado Cristovam Buarque
Latifundiários agradecem: obrigado Heloisa Helena, obrigado Cristovam Buarque
A Imprensa do denuncismo agradece: obrigado Heloisa Helena, obrigado Cristovam Buarque

Todos aqueles que pisam, enganam e massacram o trabalhador brasileiro agradecem: obrigado Heloisa Helena, obrigado Cristovam Buarque.

[Claro que Heloisa Helena merece um agradecimento especial: do povo de Alagoas. Afinal, ela se lançou numa corrida presidencial movida a ressentimento, desespero e vaidade e, assim, não buscou renovação no Senado, deixou o campo livre para - sim, é ele! - Fernando Collor de Melo]