2.10.06

Entrevista com Lula

A entrevista de Lula:

- Como presidente da República, parabenizo o eleitorado brasileiro pela paz com que transcorreu a eleição ontem. Parabenizo o processo de votação. Outros países poderiam copiá-lo. Parabenizo também a Justiça Eleitoral pelo rigor com que se comportou. A campanha se deu de forma civilizada. Parabenizo os partidos políticos. Isso mostra ao mundo que o processo democrático brasileiro está consolidado.

- Agora, como candidato, agradeço aos eleitores que votaram em mim. Logicamente todos os candidatos gostariam de ganhar a eleição em primeiro turno - mas nem sempre a sabedoria popular permite isso. Teremos doravante uma campanha eleitoral mais justa. Poderemos debater os problemas do Brasil, o que fizemos ou nos propomos a fazer.

- O segundo turno é importante porque torna mais previsível a escolha dos eleitores. Será um segundo turno mais esclarecedor.Vocês sabem que estou extremamente feliz com a vitória do companheiro Jaques Wagner na Bahia. A vitória do Marcelo Deda em Sergipe é outra coisa importante. Eram dois Estados governados pelo PFL. E o PT ganhou nos dois.

- Eu me coloco à disposição de vocês para responder a cinco ou a seis perguntas de forma organizada. Porque tenho que ganhar tempo para cuidar da minha campanha.

Agência Reuters - O senhor se arrepende de não ter ido ao debate? Quais as alianças políticas que perseguirá?

Lula - Se eu tivesse uma bola de cristal para saber o que me daria mais ou menos votos eu faria o que teria me dado mais votos. Agora, não. O debate será mais ágil. Será um candidato contra outro. Será mais esclarecedor. Não tenho pesquisa para mostrar se eu deveria ter ido ou não ao debate. Agora, os aliados estão mais previsíveis. Serão dois candidatos aos governos estaduais (onde haverá segundo turno). Um escolherá um, outro escolherá outro (candidato a presidente). Vamos definir nossas alianças políticas. Em Pernambuco, vou apoiar Eduardo Campos e sei que ele irá me apoiar. A coordenação política entrará em contacto com essas pessoas e saberei depois. Eu soube que ela (Heloísa Helena) liberou seus eleitores para votarem em quem quiser. É uma sóbria decisão. Isso já aconteceu com o PT. Mas os eleitores já estão tomando posição.

O Dia, do Rio - No caso do Rio, o senhor se dispõe a conversar com o pessoal do PMDB que apóia Sérgio Cabral?

Lula - Eu já conversei com Sérgio Cabral esta manhã. Não medirei esforços para que o Crivella (Marcelo, do PL) apóie Cabral. Terei prazer de ir ao Rio fazer campanha com Sérgio.

Folha de S. Paulo - O senhor compartilha a visão de que o dossiê (dos chefes da Máfia dos Sanguessugas contra políticos do PSDB) e a exploração das fotos (do dinheiro arrecadado pelo PT para a compra do dossiêl) contribuiram para o segundo turno?

Lula - Havia uma pressão da sociedade para que houvesse segundo turno. Se é uma coisa que gostamos de fazer, Alencar (o vice) e eu é campanha. Quanto ao que nos levou ao segundo turno... Ainda não sei. Vamos disputar o segundo turno com a mesma força que disputamos o primeiro. (...) Todo político se queixa da imprensa. O dado concreto é que ela tem um papel muito importante na consolidação da democracia. Tudo tem de ser mostrado. Tinha a fotografia (do dinheiro) e ela tinha de ser mostrada a qualquer hora. Ma tem um mistério nesse dossiê... Quero saber quem arquitetou essa engenharia (a montagem e compra do dossiê pelo PT) para nos tirar o pé... Se fosse nos Estados Unidos alguém estaria fazendo um filme a respeito.

Rádio Jornal do Commercio, Pernambuco - O que se diz é que o senhor vai se vestir como candidato dos pobres e tentar vestir Alckmin como o candidato dos ricos. Vai?

Lula - Se fosse assim eu já teria sido eleito. Governei para pobres e ricos. Se alguém quer dividir os candidatos... A luta me fez chegar à presidência da República. A sociedade brasileira, a cultura brasileira não permitem essa divisão... (...) Quando os dados mostram que tiramos pouco mais de 19% dos brasileiros da pobreza, todos ganham - eles, os pobres, e os ricos. Todos ganham com um processo de produção de riqueza contínuo. Vou continuar privilegiando os mais necessitados. Por isso que tenho política de desenvolvimento para o Nordeste que durante muito tempo ficou esquecido.

Folha Online - O que o senhor acha da volta à política de pessoas do seu partido acusadas (em escândalos)?

Lula - O voto é soberano. O povo votou. Não importa se gostei ou não. Não tive maiores problemas com o Congresso. Aprovamos 90% das coisas que mandamos para o Congresso. Eu sempre disse que quem não deve não teme. Tivemos três CPIs funcionando. Vocês não me verão como presidente da República empenhado em evitar CPI. Muita gente acha que isso é confusão. Não é. É democracia. Pior teria sido se o presidente tivesse tentado interferir. Como em São Paulo interferiu... Repito: quem não deve não teme... Quanto às pessoas (acusadas): não sou eu que vou questionar o voto de ninguém. Vejam o Collor. Ele voltou. Estava afastado há 14 anos. Com a experiência que tem poderá, se quiser, fazer um trabalho excepcional.

TV Globo - O senhor disse que o caso do dossiê foi um tiro no pé. O senhor culpa o PT?

Lula - Eu não posso culpar o PT que é muito grande. Quando você negocia com bandidos está sendo tão bandido quanto eles. Eu peço a Deus que tudo seja esclarecido. A Polícia Federal tem autoridade para fazer investigações sérias. (...) Se eu me licenciar do cargo, Alencar terá de assumir. E ele será muito importante em Minas Gerais. Vamos continuar governando. Você nao precisará mais fazer tanto esforço físico no segundo turno. O tempo de televisão será igual. Dá para governar e fazer campanha.

Por que o senhor não venceu no primeiro turno?

Não venci porque não venci. Faltou voto. Não tem eleição ganha. Embora eu respeite muito pesquisa, não levo pesquisa ao pé da letra. Ela é uma fotografia do momento. (...) Faltou voto para a gente ganhar no primeiro turno. Não faltará para vencer no segundo.

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