Globo silencia diante do crime de vazamento das fotos do dinheiro
Bia Barbosa
"Jornalistas ouvidos pela Carta Maior neste sábado informaram que três jornais, uma emissora de rádio e a TV Globo possuem a gravação da fala do delegado Edmílson Pereira Bruno no momento em que ele entregou aos repórteres o CD com as fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal. Na fita, o delegado diz “tá aqui. Agora vamos f... o governo e o PT” e informa à imprensa que, dali, iria forjar um boletim de ocorrência para justificar o suposto “desaparecimento” do CD com as imagens.
Em reportagem do Jornal Nacional deste sábado (30), o repórter César Tralli informa que o delegado afirmou que não divulgou as fotografias por vingança, mas por se sentir prejudicado pela Polícia Federal por ter feito as prisões daqueles que tentaram vender o dossiê contra José Serra e depois ter sido afastado do caso.
(...)
Mas, segundo garantiu um funcionário da TV, a direção da Globo recebeu na tarde de sexta, mais de 24 horas antes, a fita que comprova as claras intenções políticas do delegado Bruno e sua iminente fraude de um boletim de ocorrência. Por que então não questionou a fala do delegado? Por que não colocou no ar a gravação com a sua declaração? Por que disse aos telespectadores que não sabia das intenções do delegado da PF?
Ao saber das intenções políticas do delegado, que não poderia divulgar as imagens, e que ele forjaria um boletim de ocorrência – ou seja, que um alto funcionário da Polícia Federal, com objetivos eleitorais, estava a caminho de cometer um crime – a única coisa que os jornalistas que receberam as fotos foram capazes de fazer foi se calar. A imprensa justificou a divulgação de imagens que quebraram um sigilo de justiça com base no interesse público. Mas “esqueceu” que também seria de mesmo interesse público informar seus leitores, ouvintes e telespectadores do crime que estava por trás deste “vazamento”."
A reportagem continua no link: http://cartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12406
[Comentário meu: se as redações receberam as fotos, seu dever é publicá-las; mas, a partir do momento em que foi o delegado que repassou estas fotos, a imprensa deveria identificar esta fonte uma vez que não deixa de ser um delito de vazamento de informação (a análise é do Alberto Dines, do 'Observatório da Imprensa'). Se o delegado ainda comunicou que iria cometer um delito - forjar uma ocorrência de roubo - isso também deveria ser revelado. Ora, quantas vezes, neste país, não foi necessário um vazamento de informação para que a população soubesse o que acontecia na ditadura? Quantas vezes não foi imprescindível manter uma fonte anônima para sua própria segurança? O problema é: não vivemos mais num Estado de Exceção, vivemos num Estado de Direito, onde a mídia também deve estar sob as regras que regem a nós todos.
Retomemos apenas o caso deste tal delegado: primeiro, afirmou que haveria um outro dossiê, ainda maior, com duas mil páginas até ser contradito pelo delegado responsável; depois chegou a insinuar que os petistas teriam caído numa arapuca feita pelos tucanos, uma vez que já - afirma o delegado - havia uma kombi com assessores de imprensa do PSDB na delegacia antes mesmo das notícias das prisões; além do próprio episódio do vazamento das fotos, em que, primeiro, ele dissse não ter sido fonte - reclamou indignado, diga-se de passagem -, depois assumiu que tinha sido ele mesmo mas tampouco revelou a extensão do caso, disse que revelaria suas 'razões' apenas no inquérito instalado pela polícia.
Eis o comentário de Tereza Cruvinel que, mesmo trabalhando no Globo, tem demonstrado uma isenção e isonomia admirável neste processo todo. Ela e Franklin Martins de todos estes analistas ou jornalistas-blogueiros:
"O delegado Bruno desde o início é suspeito dentro da instituição. A PF não montou uma operação, daquelas que têm nome engraçado para prender a compra e venda de dossiê. Havia escutas mas houve um telefonema anônimo, o delegado Bruno estava de plantão, seu colega de Mato Grosso prendeu o parente do Vedoim no aeroporto e ele foi prender os dois petistas no hotel. Foi afastado do caso porque desde o início, segundo fonte minha na PF, o comando da instituição achou a operação atípica. Mas não há provas de que ele participava de uma trama para pegar petistas tontos caídos em arapuca. Agora, surge, sim, evidência de uma transgressão dele. Se ele disse mesmo aos jornalistas a quem deu os CDs de fotos que iria lavrar um boletim de ocorrencia falso dizendo que o CD original foi roubado de sua sala, confessou delito. E os colegas, se ouviram isso, ficaram numa saia justa. O Off garante o segredo da fonte, no interesse do público. Mas e se a fonte está incorrendo em delito? Denuncia a fonte? Por outro lado, eles queriam a notícia do dia, embora ela interessasse à oposição, era notícia. Complicado."
Link do blog de Tereza Cruvinel (lembrando, a única a pular fora do barco furado de comentarista de Jô Soares) é: http://oglobo.globo.com/blogs/tereza/]
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