30.4.06
ou eu - desastrado e incômodo - aconteço às coisas
“Eu sinto nos ossos” – ela piscou, como se estivesse sentindo naquele exato momento, e disse.
Eu respondi que esperaria até a segunda-feira e, talvez, quem sabe, lhe daria razão. A avó é a única pessoa com quem falo na casa. Nas poucas ocasiões em estou aqui, me dirijo aos outros com solenes “com licença” e “você poderia, por favor, me passar o sal” para deixar bem claro o quanto os odeio.
Nas três vezes em que fui ao analista, foi isso o que ela disse. “Que a causa de tudo seria descoberta se fizéssemos uma investigação do meu histórico familiar”. Ela falou assim mesmo: “fizéssemos”, do plural, de nós – e “investigação”. Não estou mentindo.
Gostei do termo, da objetividade do termo. Da clareza: simples assim, saber me libertaria.
Paredes coloridas, sofazinho para espera, uma jarro de plantas de plástico que nunca pedem água. Revistas infantis – parece que ela também atendia crianças.
Revolvi a possibilidade de cura numa careta.
Tudo o que eu queria era um rosto psicanalizado assim, que nem o rosto da analista, os músculos impedidos de grandes movimentos, reluzindo, vez ou outra, muito sutilmente, aquela malícia de estar sempre interpretando seus pacientes em termos sexuais. E sem maiores pudores – eu, da minha parte, não gostaria de morar dentro da cabeça de um psicanalista.
Não voltei ao bem decorado consultório.
De qualquer forma, à guisa de negativa, contei para ela que, nos movimentos mais intelectualizados da esquerda francesa, entre os anos 60 e 80, havia, por parte das mulheres, uma deliberada apreciação do sexo com as classes trabalhadoras. Elas buscavam entre os estranhos, nas construções, nas praias desertas, particularmente os pedreiros, jardineiros, encanadores e toda a sorte de deliciosos proletários, com o cheiro específico do suor da tarde. Não raro, organizavam gang bangs.
Aqui, nós nunca tivemos isso. A esquerda se dividia entre discretos apelos neo-cristãos, apesar do discurso sobre as implicações da revolução, e uma sensibilidade estética francamente burguesa. Havia uma aura ‘guerrilheira’ e romântica, restrita aos espaços clássicos de luta, enquanto os europeus levavam uma proposta muito mais radical ao cotidiano, à sexualidade, às roupas, à comida. Pode-se dizer que indiferença religiosa moldou a esquerda francesa.
Aqui, nós sucumbimos a um nocivo catolicismo dos trópicos.
Eu queria impressioná-la.
Decidido, voltei à rua.
Debaixo dos viadutos, lá onde as garotas ficam no frio, enquanto os travestis se protegem da chuva embaixo dos pontos de ônibus – tudo bem exposto para que não se tenha dúvida do que é um travesti. Pensei em fazer um fogo dentro da tina de ferra, mas poderia afastar os clientes.
Sem hesitação, falei para o cara: “Trinta”.
As coisas me acontecem ou - eu
Isso deixa a gente com cara de maluco, estas sobrancelhas sempre no alto. Mas impede o sono.
Impede dormir de novo, atrapalha bocejar no meio da rua e cair para o lado da pilastra, fulminado. Porque estou te falando daquele sono paralisante, no qual você não consegue mais mexer um dedo para se levantar e sair do quarto que está pegando fogo. Um sono para lá perigoso.
Na boca, vai cozinhando o mesmo hálito, aquele hálito de muito tempo de boca fechada. Se você beija dentro dessa boca, é como entrar numa imensidão carnosa e quente, muito quente – levemente nauseante – como se o outro, o dono do beijo, tivesse tomado coca-cola morna.
Depois, circular...
Passear braços e pernas – tão bonitos, tão simétricos... – lançá-los pela direita, recolhê-los pela esquerda, colocá-los nos trilhos do mesmo passo e do mesmo balanço. Trabalhar as curvas, planejar com cuidados viradas súbitas, calcular o ângulo certo.
Então, a voz.
Barítono, dizem. Desconfio que as pessoas vêem em mim um sapo. Não sei porquê. Barítono, a palavra, não te lembra um sapo?
Mas a voz, os brincos, o aparelho de surdez, os aros finos do óculos, os cabelos invadindo a cara – (aquela ruína) –.
Insidiosamente: é o modo como estes fios avançam. Por debaixo das orelhas, por cima do nariz, escondido nas narinas. Sem mostras visíveis de arrependimento. Sem praga possível que os faça parar. A cada noite, vão ganhando mais terreno, conquistando mais um palmo.
Generais invencíveis e metódicos comandam estes fios.
Espelhos, vidros, janelas, reflexos, superfícies aquosas, todos reproduzem este quadro triste. Como numa conspiração, todos eles combinando-se e confirmando-se uns aos outros. Sem parar.
(Se me perguntam, então, não hesito: “O corpo? Este engodo, esta interrogação.”)
Nossa posição...
"Não estamos propondo que se ignorem os erros cometidos pela antiga direção do PT. Vão do abandono de pontos programáticos caros a alianças desastrosas. Mas daí a decretar seu esgotamento histórico e não enxergar a natureza distinta do atual governo em relação ao bloco PFL-PSDB é um passo arriscado demais. Um tiro no escuro em salão repleto de atores relevantes."
Continua: http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3051
Um dia sem mexicanos...
Um dia sem os trabalhadores
A convocação a uma greve geral para o Primeiro de Maio dos EUA, em defesa da inclusão de trabalhadores mexicanos e de outras nacionalidades, promete ser a maior manifestação da história da classe trabalhadora, incluindo grande parte dos 12 milhões sem documentação nos EUA.
Emir Sader
Texto: http://oglobo.globo.com/jornal/pais/247010235.asp
Política e mídia: onde não há acaso...
Olhando as denúncias, elas voltam à 2001, 2003, até 2006, mostrando quando se iniciou a promiscuidade entre público e privado - descobriu-se, agora, que o 'Centro de Defesa Direitos da Cidadania', que recebeu 105 milhões, já tinha sido processado, pelo proprio Estado do Rio, por um calote de 200 mil reais; esta mesma ONG é dirigida por Carlos Alberto da Silva Lopes, presidente do PMDB de Petrópolis; a ONG Pró-Cefet/RJ recebeu 59 milhões da Secretaria de Trabalho do estado e do Fundo de Saúde exatamente quando o secretário estadual do Trabalho, Marco Antonio Lucidi e Léa Pontes Castelo Branco, de uma subsecretaria, faziam parte do Conselho Curador da ONG.
Ou seja, tem de haver algum motivo para que estas denúncias surjam agora. Deve haver algum motivo para que a Veja dedique um numero inteiro a desvendar as relações Garotinho - Comendador Arcanjo, explorando ao máximo a foto em que Garotinho desce do jatinho pertencente ao Comendador (detalhe: numa entrevista, o ex-governador começou negando que teria, alguma vez, usado o tal jato; diante da foto, ele mudou a historia e admitiu que usou 'uma ou duas vezes'). A razão é: a candidatura-chuchu nao está deslanchando. Lula acabou de subir 3 pontos percentuais na ultima pesquisa (ver Blog do Noblat), enquanto Alckmin continua com os seus mais ou menos 20% e Garotinho começa a fungar no seu cangote com 15%. Eis a razão: se o PMDB insistir numa candidatura propria, se Garotinho sair como candidato oficial - cenários muitíssimos improváveis -, corre-se o risco de que ele é quem ameaçe Lula e nao Alckmin.
O chuchu que se prepare, depois da Veja fazer a caveira do Garotinho, vai ser a hora da Editora Três, da Isto é - aquela que encomendou uma pesquisa e não divulgou o resultado do segundo turno porque isso desfavorecia o ex-governador do Rio - reagir.
Sobre a Pro-Cefet?RJ:
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/247010236.asp
Sobre o uso do avião de Arcanjo:
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/247010235.asp
29.4.06
Se não é ilegal, é imoral...
Razão mais do que suficiente para tornar ilegal.
Do Blog do Noblat:
Garotinho com frio na barriga
As empresas com sócios laranjas e endereços de fachada que doaram R$ 650 mil para a campanha do pré-candidato do PMDB Anthony Garotinho acabaram mostrando uma conexão ampla com recursos do governo do estado, que só de janeiro de 2005 a abril deste ano repassou, via Fundação Escola de Serviço Público (Faesp), R$ 254 milhões a 12 ONGs para prestação de serviço. Detalhe: mais de 90% dos contratos foram feitos sem licitação, e as ONGs não explicam como prestam serviço ao estado, além de terem uma intrincada rede de endereços comuns ou já não utilizados. Procuradas ontem, muitas não funcionam nos lugares que declaram ou se recusam a explicar que tipo de serviço fazem. Entre as 12 ONGs há três cujos diretores são sócios de empresas que doaram recursos ao PMDB, informa O Globo, hoje.
Leia mais aqui. Aqui. Aqui. Aqui e aqui.Mais links:
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/247006345.asp
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/247005121.asp
25.4.06
Nova modalidade dos políticos brasileiros: viagem à Lua... de carro
O jornal O Globo publicou que no ano passado a Câmara reembolsou despesas com gasolina dos 513 deputados federais no valor astronômico de R$ 41 milhões.
Cada um pode gastar até R$ 15 mil por mês. Mediante apresentação de notas fiscais, recebe o dinheiro de volta.
Os R$ 41 milhões dariam para comprar 20,5 milhões de litros, o suficiente para rodar 164 milhões de quilômetros em um carro médio que percorre oito quilômetros com um litro. Equivaleria a 431 viagens à Lua ou 64 voltas em torno da Terra.
Se os deputados decidissem comprar tal quantidade de gasolina em Brasília em um mesmo dia, por exemplo, os 317 postos da cidade passariam 11 dias abastecendo seus carros sem atender a mais nenhum.
O deputado Francisco Rodrigues (PFL-RR) foi o campeão de consumo: a gasolina que ele diz ter gastado daria para percorrer 52 vezes a distância entre entre Manaus e Porto Alegre.
É evidente que a indústria da nota fria deve produzir a todo vapor para justificar falsas despesas. E a direção da Câmara logo se apressou a informar que investigaria o caso.
Não investigará. Ou melhor: investigará apenas os gastos do deputado Rodrigues, segundo anunciou há pouco o Corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI).
Corregedor é o sujeito encarregado de zelar pelo bom comportamento dos colegas.
Nogueira alega que não tem como investigar tanta gente a não ser que o Tribunal de Contas da União detectasse irregularidades nas prestações de contas dos deputados.
Por sua vez, o tribunal não tem condições de fazer tudo que lhe caberia fazer.
Como tantas outras, a denúncia entrará por uma perna de pinto e sairá por uma perna de pato.
Mais uma vez a Câmara não decepciona quem dela nada mais espera - salvo a absolvição de deputados pagos para votar com o governo e a tolerância com pequenos grandes crimes.
20.4.06
O Médico: "A cirurgia foi perfeita; apenas não era a cirurgia certa"
Ligia Martins de Almeida (*)
Quanto valem, para a imprensa, notícias envolvendo descaso médico, mau atendimento pelo SUS e as tragédias diárias de que são vítimas os brasileiros que, quando ficam doentes, têm que esperar na fila até chegar a sua vez? Se o parâmetro for o que aconteceu com uma jovem, filha de lavradores do interior do Espírito Santo, histórias assim valem pouco mais que dez linhas.
Maria Helena Zibel, brasileira, 29 anos, moradora em Santa Maria de Jetibá (ES), vai pagar pelo erro do hospital onde se internara para uma cirurgia simples, e de onde saiu sem o útero. Segundo um dos médicos...
"Foi problema de ortografia. A cirurgia foi perfeita, apenas não era a cirurgia que deveria ser feita." (Folha de S.Paulo, 16/04/2006)
A culpa, segundo o médico, foi da enfermeira que preencheu a ficha, como se esses erros fossem coisa de rotina. A família, segundo o diário capixaba A Gazeta, vai processar o hospital por erro médico e pedir uma indenização. O processo vai rolar, provavelmente a família receberá algum dinheiro, e o assunto será esquecido.
Esquecido porque a envolvida é uma mulher simples, moradora de uma pequena cidade do interior que não tem, a seu serviço, advogados de renome. É mais um brasileira vítima do descaso do poder público. E da imprensa.
continua: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=377FDS001
Franklin Martins X Diogo Mainardi
"Vivemos numa democracia, felizmente. Todos têm o direito a defender suas idéias, mesmo os doidivanas, e a tornar públicas suas posições, mesmo as equivocadas. Em compensação, todos estão obrigados a aceitar que elas sejam criticadas livremente. O sr. Mainardi, por exemplo, tem a prerrogativa de dizer as bobagens que lhe dão na telha, mas não pode ficar chateado se aparecer alguém em seguida dizendo que ele não passa de um bobo. Pode pedir a deposição do presidente Lula, mas não pode ficar amuado se alguém, por isso, chamá-lo de golpista. Pode dizer que o povo brasileiro é moralmente frouxo, mas não pode se magoar depois se alguém classificá-lo apenas como um tolo enfatuado.
Ou seja, o sr. Mainardi pode falar o que quiser, mas não pode querer impedir que os outros falem. Mais ainda: o sr. Mainardi é responsável pelo que fala e escreve. Enquanto permaneceu no terreno das bobagens e das opiniões disparatadas, tudo bem. Faz parte da democracia conviver com uma cota social de tolices e, além disso, presta atenção no bobo da corte quem quer. Mas quando o bufão passa a atacar a honra alheia, substituindo as bobagens pela calúnia e as opiniões disparatadas pela difamação, seria um erro deixá-lo prosseguir na sua torpe empreitada.
No Estado de Direito, existe um caminho para os que consideram que tiveram a honra atacada por um detrator: recorrer à Justiça. É o que farei nos próximos dias. No processo criminal, o sr. Mainardi terá todas as oportunidades de provar que usei minha condição de jornalista para traficar influência. Como é mais fácil um burro voar do que ele dar substância às suas invencionices a meu respeito, estou confiante de que se fará justiça e o difamador será condenado pelo seu crime. "
Link: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=377IMQ010
Vamos ver: de um lado, um arremedo de jornalista, oportunista, o espírito denuncista de McCarthy encarnado (chegou ao ponto de denunciar que jornalistas eram da Opus Dei em uma de suas colunas, chegando a enviar email ao 'Observatorio da Imprensa' pedindo nomes) e que nunca apresenta provas de suas denúncias; de outro, um jornalista que teve participação num dos maiores eventos contra a ditadura e a favor da democracia no Brasil, o tão famoso sequestro do embaixador americano Charles Elbrick (com aquele tamanho todo, Franklin Martins dirigiu o fusca que bloqueou o carro diplomático), foi exilado, perdeu amigos torturados, mortos ou 'desaparecidos', tentou a vida política, não foi eleito, voltou para o jornalismo e, hoje, é uma voz de sensatez no meio da carniçaria direitista. (http://franklinmartins.globo.com/)
Hum... vamos ver... preciso dizer para quem estou torcendo???
Correio Caros Amigos
por José Nilton Mariano Saraiva
Se para alguns críticos o livro A Arte da Política - A História que Vivi, de autoria do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é “...uma aula de História, Ciência Política e Política”, igualmente também poderíamos considerá-lo como um primor de bazófia, desfaçatez, falsidade e omissão.
Bazófia – quando recorrentemente insiste, ao longo do texto, em autoproclamar-se um intelectual cosmopolita, condição que teoricamente lhe conferiria uma credencial “sine qua non” à abertura de novos mercados para o Brasil no mundo globalizado, assim como uma maior respeitabilidade diplomática no tratamento com autoridades e nações desenvolvidas (um exemplo da grandiloqüência: chegou a sugerir ao papa João Paulo II (sem sucesso), durante audiência no Vaticano, que conversassem em um outro idioma que não o fluente português que Sua Santidade insistentemente teimava em utilizar).
Desfaçatez – quando tenta inutilmente relevar todos os grandes escândalos que marcaram seu governo, ora transferindo responsabilidades (como a compra de votos para a reeleição, atribuída a lideranças regionais), ora ao abordar en passant uma questão gravíssima como a venda por todos reconhecida como subfaturada da Companhia Vale do Rio Doce (mas no seu entender realizada por um preço justo) ou, ainda, ao considerar irrelevante (pasmem !!!) a citação e uso do seu próprio nome (do Presidente da República), pelos amigos instalados na cúpula do BNDES, objetivando alavancar negócios suspeitos quando da privatização (também a preço de banana e ainda subsidiada pelo governo), da então principal “jóia da coroa”, o pujante e promissor setor de telecomunicações (constatada via grampo telefônico);
Falsidade – faz dela uso quando literalmente descobre e desenterra o humanamente impossível: uma pretensa e surrealista “empatia” do elitista correligionário Tasso Jereissati com o povão (como sabemos, algo absolutamente descabido e fora de propósito, dada a prepotência e arrogância do dito-cujo); e
Omissão – quando ao referir-se à indicação (pelo então governador do Ceará, Tasso Jereissati) do senhor Byron Queiroz para o Banco do Nordeste do Brasil S.A (BNB), importante estatal federal atuante na região, rotula-o açodadamente de “competente”, esquecendo as portentosas fraudes ocorridas durante sua calamitosa gestão à frente daquela instituição (que levaram o BNB tecnicamente à falência, obrigando a União a responsabilizar-se pelo descomunal rombo então perpetrado, de astronômicos R$ 7 bilhões).
Para lhe fazer justiça, créditos ao ex-presidente FHC quando ao referir-se ao senhor Ciro Gomes, fuzila sem dó nem piedade: “...Ciro Gomes me parecia um caso perdido. Tinha a pretensão de conhecer economia e proferia incessantemente declarações megalômanas”; e, contundente, conclui sua análise sobre o antigo companheiro nos premiando com a seguinte pérola: “...embora seja difícil avaliar políticos pela via da psicologia, passei a ver no ex-governador traços de um iconoclasta, que busca a notoriedade postando-se contra quem está no poder”.
Em resumo: apesar de escrever fácil, da febricitante narrativa, da riqueza e ecletismo do vocabulário e de relatar algumas passagens interessantes da dinamicidade do dia-a-dia do macro universo de atuação de um mandatário nacional, FHC não consegue convencer ou passar credibilidade àqueles que acompanharam pari-passu todo o desenrolar da sua malfadada administração à frente do país durante torturantes e longevos oito anos.
Assim, fica nos devendo o ex-presidente !!!
José Nilton Mariano Saraiva é economista.
18.4.06
Sinal do tempos: o refluxo da direita
http://www.estadao.com.br/ultimas/mundo/noticias/2006/abr/18/288.htm
17.4.06
"CPI sem fato determinado torna País ingovernável"
O ministro discorre sobre sua percepção de que membros dos três poderes, "excessivamente impressionados pela mídia", não resistem aos apelos dos palcos, câmeras e microfones, e alerta para os riscos pós-ribalta. Entre eles os decorrentes do vazamento de informações à imprensa via CPIs. Sempre sem "fulanizar", lembra que CPIs são instrumentos das minorias, devem funcionar apegadas ao "fato determinado" que as geraram e que se escaparem a tal desenho "se instala a desordem e o estado acabaria ingovernável".
link: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI967048-EI6578,00.html
Entrevista de Tarso Genro no Terra Magazine
Link: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI961203-EI6578,00.html
8.4.06
Hilda e Louise
Tenho a impressão de que ambas tratam do mesmo material, mesmo que em matérias diferentes.
Do ferro e do bronze, Bourgeois faz da gigantesca aranha uma manifestação encarnada de poder e leveza. (Me lembro da primeira vez que vi uma destas aranhas, em São Paulo. Me lembro de ter ficado hipnotizada por ela).
O embate entre morte e vida é transformado por Hilst numa disputa amorosa "duas fortes mulheres/em sua dura hora".
E o que era terror se transforma em erotismo.
HIlda, então...
Attarde-toi sur mon heure.
Avant de me prendre, demeure.
Que tu me parcoures soigneuse, éthérée
Que je te connaisse licite, terrestre
Deux femmes fortes
À leur dure heure.
Que tu me prennes sans peine
Mais voluptuose, éternelle
Comme de la Terre les femelles.
Et à toi, te connaissant
Que je me fasse chair
Et possession
Comme les hommes le font.
Hilda Hilst.
"de la mort. odes minimes"
Levitações de Louise
"Meu trabalho inicial é o medo de cair. Depois se tornou a arte de cair. Como cair sem se machucar. Mais tarde é a arte de se manter no ar."Loiuse Bourgeois
6.4.06
Começos...
Um segundo segredo, barbie: auto-consciência pode ser a primeira sabotagem que você se comete.
Caia sobre mim como uma ave abatida.
--
Seria, entretanto, bastante simplório dizer que Inana seduziu Babensky. Ele ficaria terrivelmente ofendido se eu dissesse isso. Apesar da beleza irrepreensível, da elegância da vestimenta e do esmero da fala – que pingava em construções complicadas e pronomes que ninguém usa, além das citações, obscuras e charmosas – Inana olhava para Babensky como se ele não passasse de um acaso, uma possibilidade impertinente que resolveu materializar-se no canto de sua sala de estar. Era exatamente este desapego que o prendia. Ele vivia a experiência de ser absolutamente descartável – um pouco de sofrimento, um tanto mais de espanto.
---
Nada pode florescer de forma tão sistemática e, ao mesmo tempo, tão natural quanto o vício...
--
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Eu sou teu reino.
Caia sobre mim como uma ave enganada.
Mais uma mostra de humildade de FHC...
link: http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI951548-EI306,00.html
4.4.06
O mundo fantástico de FHC...
Emir Sader
Se você quiser saber tudo isso e muito mais sobre o governo FHC, não leia o livro de auto-ajuda (para ele levantar sua decaída auto-estima), recém publicado pelo ex-presidente, decadente e marginalizado.
Não leia, porque nada disso está ali, senão autobajulações, autojustificativas, perfeitamente adequadas a que se esqueça antes mesmo de ler. Nem veja, nem leia.
link: http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3021
3.4.06
"Nossa" Caixa e Lu Alckmin
Link:http://noblat1.estadao.com.br/noblat/visualizarConteudo.do?metodo=exibirPosts&data=03/04/2006#post19443
Como o SNI vigiava Lula
link: http://txt.estado.com.br/editorias/2006/04/03/pol81326.xml
O Umbigo I
Seus comentários no último email têm muito pouco de crítica literária e se concentram numa reflexão mais pessoal (sempre tangenciando a questão de crítica?...) Acho este caminho bom – dá para pegar carona por aqui, mesmo que dê para sentir, nas suas colocações, alguns fiapos de hostilidade, mas, enfim....
Bom, as coisas que você escreveu me fizeram pensar outras coisas – sempre fazem, não é mesmo? – num contexto mais amplo, abrangendo tanto o espaço daqui-para-fora quanto o daqui-para-dentro. A questão centro – umbigo – destas reflexões que você despertou são muito claras para mim: a impossibilidade de construir um enfrentamento real das situações, para além das revoltas vazias, para além dos desprezos e indiferenças (acordos de isolamento), e, também, para além do desespero. Enfim, propor soluções de enfrentamento que subtraiam-se destas lógicas, que estejam alinhadas em outras órbitas, entende?
Alguns obstáculos se colocam no caminho deste projeto de viver fora das faixas de proteção. É muito fácil fazer um papel de vítima, mesmo que um espanto advenha ao perceber esta aquiescência masoquista e aguda em mim mesma, grudada nas costelas. É muito fácil solicitar pena ou simpatia: ficar sempre se despencando por aí, ficando doente ou quebrando coisas (o tipo de apelo específico que as pessoas que parecem ser uma ameaça – conscientemente ou não – à sua própria existência produzem). Resisto, reticente, aos aspectos práticos da existência: comida, dinheiro, a opção sexual do próximo. Sorrio aos balconistas, entabulo conversas mentirosas para agradar aos velhinhos, respondo às gracinhas dos frentistas e deixo que os homens segurem a porta para eu poder passar – quando não deixo mesmo que paguem meu almoço ou jantar.
Eu queria poder afirmar que se tratam de fragilidades cultivadas (e olha que eu estou apenas no primeiro nível das fragilidades, as que podem ser contadas para outro). Que eu quis assim, substituir selvagerias por estes desencantos, num processo iniciado na adolescência. Que, enfim, preferi ter pena – e algum enternecimento – por mim do que aversão...
Tentando uma síntese que não soluciona nada, posso dizer que minha relação com os fatos e acontecidos, esta tal ‘vida’ aí, é de uma profunda conivência, benéfica e meio mau-caráter, mais algumas ficções de rebeldia para acompanhar. As coisas têm sido assim, uma palhaçada, de cabo a rabo, uma pegadinha, algo que mesmo esta lucidez pontual mal pode abalar – é um projeto renovável de palhaçada. Até que alguns sujeitos perigosos como o Ezzio Flavio Chato – e outros, talvez você nesta horda – me puxam do País das Maravilhas pelo pé... de qualquer forma, prefiro estes períodos de maré baixa, quando os artifícios se vão e fica apenas alguma coisa mais essencial, mais monolítica, mais pedra à la João Cabral, esta insatisfação profunda que sobe à cara e a impede de expandir-se demais. Mas, enfim, provavelmente, coisas entre eu e eu (de tão próximo, um espaço infinito por mágicas cartesianas), ou eu contra eu mesma, como tem parecido ser o caso.Um ápice radical é sentir que, se algo pode ser dito, é porque não vale a pena dizê-lo.
Mas, no mais – “então tá, então” – as coisas estão muito bem, obrigada. Comprei cartucho para impressora e já imprimi seus textos. O que você prefere: apontamentos virtuais ou um cara-a-cara para amolecer a crítica?...
Não sei se esta minha insatisfação ecoa na tua – ou vice-versa – mas tenho a impressão de que, neste nosso engessado meio acadêmico, talvez você esteja exigindo demais de possíveis relações com os professores... talvez seja a idéia buscar outros espaços ou criá-los, não sei... De qualquer forma, acho você tem maiores possibilidades de um enfrentamento de tudo isso que eu – acho que existe um cerne duro por aí, bem resistente e válido.
Beijos, manifestações holográficas,
J.
E nem sou eu quem diz...
"Conforme se noticia há algumas horas, o presidente da República pretenderia deslocar o ministro Waldir Pires da Controladoria-Geral da União (CGU) para o ministério da Defesa, deixado vago pela desincompatibilização do vice-presidente José de Alencar, que acumulava a função.
Caso isso venha a se concretizar, será uma péssima notícia. Tem sido na CGU que se desenvolveu o pensamento mais consistente para a prevenção e combate à corrupção. Diversas iniciativas foram ali implantadas por Waldir Pires, entre as quais a criação de uma Secretaria de Prevenção e Combate à Corrupção.
É o primeiro organismo já aparecido no Executivo federal brasileiro cuja atividade é voltada para o combate estratégico à corrupção.
Se o ministro Waldir Pires sair da CGU, levará consigo grande parte do núcleo pensante desse organismo. Não bastasse isso, o ministro que vier a substituí-lo (e sem pré-julgamentos de qualquer natureza) trará pessoas de sua confiança e, principalmente, abordará a missão sob perspectiva própria.
Com isso, os avanços que a CGU conseguiu ao longo do último ano, principalmente, ficarão ameaçados.
Para combater a corrupção é necessário continuidade. Mudar ministros não serve a esse objetivo."
link: http://noblat1.estadao.com.br/noblat/visualizarConteudo.do?metodo=exibirPosts&data=31/03/2006#post19339
Tropos
Nada, a não ser a mão invisível do acaso, a não ser o fato de que estou lendo estes dois livros agora (é um segredo, mas... os livros se estendem numa corrente misteriosa ao meu redor, todos por ler, todos sendo relidos... numa conspiração amorosa...)
Então, que melhor justificativa para unir o que, a principio, parece irreconciliável, senão o prazer da leitura, a trajetória de uma vida, o gesto voluntarioso e ávido?....
Leio em Saer (“A Pesquisa”, Cia das Letras):
“(…) embora cada minuto que vivam os aproxime, como num jogo, do nada, no qual desaparecerá tudo o que é vivido, pensado e lembrado, desde a idéia do universo até a mais inconcebivelmente diminuta das partículas, passando por todas as variações intermediárias que existam entre as duas, e em particular nessa noite calorenta de fim de março, dão a impressão de ser maciços, sólidos e despreocupados, indolentes e sadios, concentrados no imediato, como o cirurgião numa operação delicada, o atleta no salto que se prepara para dar, ou o epicurista num gole de vinho fresco”.
[suspiro]
Se faltou fôlego para ler, penso em quanto fôlego requereu escrever...
Saer é capaz de nos dar maravilhosas composições. Ele, por exemplo, diz do mundo: “aquilo que se agita no exterior” e me toma, sempre, sua infinita delicadeza em manter a indefinição (‘aquilo’) ao mesmo tempo que a premência, que essa indefinição ainda não nos confunde: nesta única frase, sabemos que se trata da confusão do mundo, os acontecimentos incontroláveis e selvagens a que somos submetidos apenas por estar vivos.
Bom, voltando ao trecho mais longo. Cada termo é tão trabalhado, tão decantado, um ritmo de respiração tão alterado para que todas as idéias possam caber nesta longa frase; o peso da frase caída no chão é analisado, a metáfora destilada até seu ultimo detalhe. Isso faz do texto uma escultura, uma obra de pedra parada no meio da sala, esperando para ser tombada. Em Saer, o texto não ondula, não há uma brisa passando por aqui, as palavras estão ancoradas, acorrentadas entre si, e correm o risco de enferrujar-se. Coisa que, talvez, não ocorresse num texto mais ‘desleixado’, digamos assim, menos (re)trabalhado.
Então, eu lembro.
“Pois às perturbações da memória estão ligadas as intermitências do coração. É sem dúvida, a existência de nosso corpo, semelhante para nós a um vaso em que estaria encerrada a nossa espiritualidade, que nos induz a supor que todos os nossos bens interiores, as alegrias passadas, todas as nossas dores, estão perpetuamente em nossa possessão.”
Marcel Proust, “Sodoma e Gomorra”
Um trecho não menos trabalhado. A mesma complexidade sintática, a mesma exuberância. Exuberância dos sentidos, aqui, ao contrário de Saer, onde encontraríamos uma exuberância de imagens.
Em Proust, tudo é fluído, é gozoso, gozoso de uma dor erótica, a dor como o bem mais precioso do sujeito. E não por falta de trabalho e retrabalho (eis aqui a desculpa para juntar alhos com bugalhos, Marcel e Juan). Proust tinha seus cadernos de trabalho e, ao fazer as correções, ia colando novas páginas às paginas já escritas, de tal forma que, desdobradas, as páginas de correção tinham metros de comprimento. (Interessante pensar que na relação com a escrita, com a produção que estes ‘grandes’ tiveram: as duas escrivaninhas de Freud, Marx antecipando o hiper-link na biblioteca de Londres, os quilômetros de correção de Proust...)
‘Sodoma e Gomorra’ é o livro da sexualidade em “À la Recherce du Temps Perdu”, tal como “No Caminho de Swann” é o livro do amor. Se o amor, então, é sempre o amor ciumento, a sexualidade, por excelência, é a homossexualidade. De um lado, a gomorreanas: lésbicas dissimuladas, cheias de segredo, reconhecendo-se entre si num código além dos homens, tal qual Albertine. De outro, os sodomitas, estes sendo reconhecidos de longe e abertamente, apesar da complexidade de seus jogos de engano, apesar do desejo de “aderir à realidade essas propriedades de invisibilidade”. O Barão de Charlus e, quem sabe, o próprio narrador.
“(…) a jovem não cessava de pousar em Albertine os fogos alternados e giratórios de seus olhos. (…) quando duas raparigas se desejavam dava-se como que um fenômeno luminoso, uma espécie de rastilho fosforescente que ia de uma a outra.”
Proust é o escritor do visível, porém não palpável. O narrador é um observador, mas um observador à deriva, sendo empurrado ou trazido pelo que vê. As palavras escorregam pelos dedos quando se tenta guardá-las; o desejo contamina a memória, ele é um freudiano, um psicanalista avant la lettre (será “Em busca do tempo perdido” a manifestação da psicanálise em ato de escritura ou será a psicanálise não mais que uma releitura de Proust?). Por exemplo, a pulsão e a marca que seu objeto deve portar, selon Proust: “sua música, sua chama, seu perfume (…) a satisfação, tão fácil em outros, de suas necessidades sexuais, depende da coincidência de muitas condições demasiado difíceis de encontrar”
Memória, linguagem, desejo. Proust ensina que uma obra não precisa ter um ‘conteúdo’ erótico para ser um ato máximo de erotismo. Seus leitores aprendem que este ato tem equivalente na leitura: ler um texto é fazê-lo entrar no catálogo pessoal de nossas sensualidades... ("O Prazer do Texto", Barthes).
Apresentando Raymond Roussel
Bonito, né? Parece um Proust melhor acabado...
Estou somando sonhos com este senhor. Um por semestre, cada um mais aterrorizador que o outro. Também quem mandou fazer uma dissertação sobre literatura e psicanálise centrada no escritor preferido de Foucault e que não tem nenhuma obra traduzida para o português?
No último dos sonhos, Roussel e Freud, contemporâneos, ligados por Pierre Janet, não se encontravam. Exatamente: sonho do não-encontro. Acordei indignado: afinal, o que custava eles terem se conhecido e trocado umas figurinhas? Ia adiantar bastante o meu trabalho...
Parece que a responsabilidade deste encontro vai ter que ser só minha mesmo.
link: http://en.wikipedia.org/wiki/Raymond_Roussel
A direita não decepciona nunca...
Entretanto, me arrisco ainda a usar estes termos, na falta de coisa melhor.
Em “Soldados de Salamina”, um velho combatente da Guerra Civil comenta: “A esquerda sempre decepciona; a direita, nunca.” Concordo. A esquerda decepciona mesmo. É seu direito e obrigação decepcionar: o projeto de um mundo menos desigual, mais humano, nunca estará completo. Estamos sempre um passo atrás. E a esquerda está sempre um passa atrás. Ela é ultrapassada pelas condições socioeconômicas de cada tempo; pelo peso histórico das práticas gananciosas sustentadas pelo grande capital; pela ferocidade da mídia comprada e conservadora. Os governos de esquerda, mesmo quando se elegem, simplesmente são impotentes diante de alguns urgentes problemas. Pensemos, por exemplo, na questão do latifúndio e da grilagem no Brasil. A CPI da Terra, no final do ano passado, rejeitou um primeiro relatório dizendo que este impedia ‘o direito à terra’ – daqueles que já têm, há muito, direito à terra – e votou a favor de um segundo que torna ‘atos terroristas’ e ‘crimes hediondos’ a invasão de terras. (http://www.vermelho.org.br/diario/2005/1207/1207_cpi_terra.asp )
Eduardo Galeano falou disso de uma maneira muito especial, no Forum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre. O tema era Utopia. Antes mesmo que José Saramago, seguindo as colocações de Marx, se definisse como um anti-utopista, eis o que disse Galeano: estamos sempre perseguindo nossas utopias, utopias de um mundo mais justo, de uma vida mais significante, menos cruel; sempre que nos aproximos, percebemos que ainda falta muito para alcançar este sonho, este desejo. Eis então o que faz a utopia: ela nos faz caminhar. E o discurso de esquerda é um discurso utópico. Um discurso de 'esperança radical', como definiu Contardo Caligaris, fazendo uma crítica ao Lula eleitoral. Ora, a esquerda não tem medo de comprometer-se com esta utopia que faz caminhar.
“A direita, esta não decepciona nunca.” No poder, as ações da direita sempre vão além: não há limite ético ou moral para ultrapassar. Esperávamos o mal, recebemos o pior. As privatizações do governo FHC foram indecentes; bom, ele comprou sua reeleição. Dois dias antes de terminar seu governo, FHC aumentou de 30 para 50 o prazo de segredo de documentos militares da época da ditadura com a possibilidade de prorrogação deste período. (http://www.sinpro-rs.org.br/extraclasse/mai04/especial.asp)
Não estávamos acostumados com a direita na oposição. A esquerda na oposição realiza um trabalho constante, nem sempre eficiente. A esquerda – a verdadeira esquerda – está para sempre entravada por seus princípios, seus limites de ação, tudo inegociável. Quase como uma oposição sem malícia. Estes princípios, estes limites também explicam porque os partidos de esquerda não conseguem se unir num único projeto, desde os tempos de Lênin (Hobsbawn, em ‘Era dos Extremos’, fala de como os comunistas, antes da I Guerra, combatiam mais os social-democratas do que os facistas).
A direita na oposição, rancorosa de ter perdido o poder, é carniceira e sem escrúpulos. Nada impede sua ação. Confiante na mídia, a direita é puro espetáculo, sabe que é isso que importa. Sabe que o que importa é acusar – para quê provar? Quem se importa com provas? Num país sem memória, se alguém acusado hoje prova sua inocência daqui a 30 anos, 10 anos ou 2 meses, ninguém mais se lembra. Qual o problema se a única prova contra José Dirceu é o testemunho da mulher de Marcos Valério? A direita não precisa ser coerente: ACM Neto acusa a Abin de grampeá-lo e ameaça surrar o presidente Lula – quem se lembra de que seu avô grampeou o telefone de uma ex-namorada, usando aparato do Estado para suas arbitrariedades?
A direita não decepciona nunca.
As hienas estão chegando...
Sob o comando do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, lideranças tucanas afirmam abertamente que, nos próximos meses, principal estratégia da campanha será uma grande ofensiva contra o presidente Lula. Diante do cenário de agravamento da crise política, qual a possibilidade de uma contra-ofensiva por parte do PT e do governo Lula?
link: http://cartamaior.uol.com.br/templates/index.cfm?alterarHomeAtual=1
Corporations
(...)
Quase 22 anos após o desastre, ninguém foi condenado e muitas das vítimas ainda não receberam indenizações. As vítimas também reivindicam a limpeza da fábrica, a inclusão de uma referência a este desastre nos livros de história e a construção de um monumento aos mortos, com o objetivo de fixar o desastre de Bhopal na memória social...
Link para a matéria completa: http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI935436-EI294,00.html
"Boa noite, e boa sorte"
"Isso pode não fazer bem a ninguém. Ao fim deste discurso, algumas pessoas podem acusar este repórter de desonrar seu próprio e confortável ninho, e sua organização pode ser acusada de ter sido hospitaleira a pensamentos heréticos e até perigosos. Mas a complexa estrutura de emissoras, agências publicitárias e patrocinadores não será abalada ou alterada. É meu desejo, se não minha obrigação, tentar falar a vocês, trabalhadores experientes, com alguma sinceridade sobre o que está acontecendo com o rádio e a televisão.
Não tenho nenhuma dica ou conselho técnico a oferecer àqueles que trabalham nesta área de produção de palavras e imagens. Vocês me perdoarão por não falar que os instrumentos com os quais trabalham são fantásticos, que sua responsabilidade não tem precedentes ou que suas aspirações são freqüentemente frustradas. Não é necessário lembrar que o fato de suas vozes serem amplificadas ao ponto de atingirem de uma costa a outra do país não lhes confere maior sabedoria ou compreensão do que vocês possuíam quando elas atingiam apenas de um lado a outro de um bar. Vocês sabem de tudo isso.
De início, vocês também deveriam saber que, assim como testemunhas se apresentam diante de comitês do Congresso, eu me apresento aqui voluntariamente – convidado – como um empregado da Columbia Broadcasting System, ressaltando que não sou administrador ou diretor daquela corporação e que estes comentários são de natureza pessoal. Se o que tenho a dizer é irresponsável, então sou sozinho responsável por dizê-lo. Como não procuro aprovação de meus empregadores ou novos patrocinadores, ou elogios dos críticos de rádio e televisão, então não posso me deixar enganar. Acreditando que, potencialmente, o sistema de transmissão comercial deste país é o melhor e mais livre já projetado, decidi expressar minha preocupação sobre o que acredito estar acontecendo ao rádio e à televisão. Estes veículos têm sido bons para mim além da conta. Não há nenhuma base justa para reclamações pessoais. Não tenho nenhuma rixa, seja com meus empregadores, qualquer patrocinador ou com os críticos profissionais de rádio e televisão. Mas sou tomado por um medo duradouro que diz respeito ao que estes dois instrumentos têm feito à nossa sociedade, nossa cultura e nossa herança.
Nossa história será o que fizermos dela. Se houver historiadores daqui a cinqüenta ou cem anos e tiverem sido preservados filmes de uma semana de nossas três redes, eles irão encontrar gravadas em preto e branco, ou cor, provas da decadência, escapismo e alienação das realidades do mundo em que vivemos. Eu chamo sua atenção para a grade de programação de todas as emissoras no horário de 8 a 11 da noite, na Costa Leste. Vocês encontrarão apenas referências passageiras e espasmódicas ao fato de que esta nação está em perigo mortal. Há, é verdade, programas informativos ocasionais apresentados no gueto intelectual das tardes de domingo. Mas durante os períodos de pico diários, a televisão nos isola das realidades do mundo em que vivemos. Se as coisas continuarem assim, nós talvez tenhamos que alterar um slogan publicitário para ler: OLHE AGORA, PAGUE DEPOIS.
Certamente, se sobrevivermos, nós deveremos pagar por usar este poderoso instrumento de comunicação para alienar a população das duras e exigentes realidades que devemos encarar. Eu uso a palavra "sobreviver" literalmente. Se houvesse uma competição por indiferença, ou talvez por alienação, então Nero e sua lira e Chamberlain e seu guarda-chuva não encontrariam lugar em um programa de início de tarde. Se Hollywood ficasse sem índios, a programação ficaria completamente desorganizada. Então alguma alma corajosa com um orçamento modesto poderia ser capaz de fazer um documentário contando o que, de fato, nós fizemos – e continuamos a fazer – com os índios neste país. Mas isso seria desagradável. E nós temos que, a todo custo, proteger os sensíveis cidadãos de qualquer coisa que seja desagradável. (...)"
Discurso de Edward Murrow na Convenção da Radio-Television News Directors Association (Associação dos Diretores de Rádio e Telejornalismo), em 15 de outubro de 1958.
link para o discurso completo: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=372TVQ002
Quanto vale ou é por quilo?
link: http://www.estadao.com.br/ultimas/cidades/noticias/2006/mar/24/120.htm
As 10.000 obras do casal Garotinho
Carla Rocha e Fábio Vasconcellos
Em vez de ser um documentário da realidade, a propaganda das 10 mil obras do governo Rosinha tem cenas de filme de ficção. A partir da lista que deu origem à campanha publicitária, feita pelo próprio estado, repórteres do GLOBO percorreram, durante duas semanas, 10 dos 92 municípios. Foi o bastante para descobrir obras que não saíram do papel, foram malfeitas, estão paralisadas ou já necessitam de reparos. Ou sequer são obras, mas sim serviços de reforma ou manutenção. O valor gasto pelo governo na propaganda — veiculada na TV, rádio, jornais e outdoors — ainda não foi calculado pelo estado, segundo o secretário de Comunicação, Ricardo Bruno.
link: oglobo.globo.com/jornal/rio/192330086.asp
Experimentações Literárias
Deixo que a menina que vende balinhas roube o restante de meu dinheiro. Ela some nos corredores do bar, dizendo ir buscar o troco. Não me arrependo. Me entristece que ela precise desta minha caridade envergonhada.Espero Carlos há quarenta minutos. Através das janelas de vidro, vêem-se as mesas espremidas, o quadriculado amarelo sobre os tampos. Tudo o que se pede aqui vem num copo de vidro americano, com retas que sobem do fundo do copo.Na mesa a frente, uma garota me olha um olhar longo, de apetite e espera, como se servissem a mim e não sei lá o que eles servem neste lugar. Eu bebo água.É melhor eu ir. A garota me segue. Ela o faz sem timidez, sem vergonha, como se caçar fosse um esporte permitido lá onde ela vive. Consigo entrar em meu carro antes que ela possa me alcançar. Ela fica olhando enquanto vai ficando mais pequeninha, distante, sorrindo insolente. Ainda não terminou.Tomo a rua vazia, desço pela tesourinha pouco iluminada.De um dos cantos, ao sentir sobre si o farol de meu carro, corre um mulher. Negra e gorda, uma blusa de algodão com o tema de um político conhecido. Antes que ela pudesse correr, pude vê-la conversando com outra mulher, esta sem blusa, mais para dentro da curva. Peitos brancos, meio caído nos lados, com carnes ainda sadias. Penso que é uma boa idéia.Paro o carro, chamo a mulher do político, que vem correndo, seus próprios peitos gordos para cima e para baixo numa velocidade maior que a dela mesma. Faço meu pedido com muita clareza, em termos de contrato. Abro a porta, mas antes que ela – a negra mulher do político, de peitos velozes – possa entrar, é a primeira mulher – dos seios que escorregam, centrífugos, para o lado – que pula para meu lado.Para mim, tanto faz.Levo-a para casa. No caminho, ela não cala a boca um instante, alterna preços com notícias da família e perguntas sobre onde compro minhas roupas. Meu apartamento é perto. Mando que ela suba pelo elevador de serviço e me encontre lá em cima.Subo pelo elevador vazio, conferenciando com meu reflexo sujo no espelho.Quando chega em frente à porta, ela bate alto e repetidamente, num escândalo desnecessário.A mando direto para o quarto.Ela se senta na cama, encostando as costas contra a parede. Me sento na cadeira em frente. Ela ainda não calou a boca, começa a tirar a roupa com tanto descuido quanto....Para fazê-la calar, sento logo na cama. Antes que eu possa me defender, ela gruda-se em meus genitais, me aperta as partes íntimas mais como se fosse me pendurar de ponta cabeça por este exato ponto do que obter através disso algum prazer. A mulher cheira a mijo. Desisto.Mando que vista a roupa e desça logo para o carro. Pelo elevador de serviço.Quando eu chego lá embaixo, não me espanta que a menina do café – de olhar longo e insolente como um pedido de comida – me espera. Percebe meu incômodo e quando vê a mulher – a cheiradora de mijo – saindo do elevador e vindo em minha direção, pergunta se esta é minha namorada.“Não. Eu não tenho namoradas.”Ela se diverte, a menina adivinha.Sigo para o carro, enquanto a menina fica lá, inspecionando minha entrada. Ainda não acabou.Dentro do carro, digo para a mulher – a de tendências sadistas – que tenho que passar pelo caixa eletrônico, tirar o dinheiro. Não sei se entende isso ou se, pela primeira vez, alguém usa de tanto refinamento com ela. O fato de estar grudada em mim, dentro do carro, lhe dá a segurança de receber o que quer.Paramos em frente ao primeiro caixa eletrônico. Lhe mando esperar. Levo as chaves do carro. Dentro do carro, não há nada que possa ser levado.Antes que eu possa entrar, dois meninos de bermuda tentam passar pela porta de segurança, sair da sala envidraçada, que abre uns míseros centímetros. Que coisa idiota, penso, roubar um caixa eletrônico. Um dos moleques me pisca o olho, joga alguma coisa para mim, que desliza com dificuldade através da porta, e se vira para o guarda. Pego a arma, me viro de costas, ouço sons que me recuso a identificar vindo lá de dentro. Olho para a prostituta. Lhe digo que não pude sacar seu dinheiro. Ainda não acabou.