a marca do escritor não é mais que a singularidade de sua ausência
15.10.06
Lit-erótico...
Viver é um descuido prosseguido.
Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas
3 comentários:
Anônimo
disse...
Vejo os links de seu blog. Política, psicanálise, literatura e filosofia. No meio das paixões políticas, você traz esse filósofo Riobaldo jagunço, do sertão que gerou o político operário. Ligações (tantas!) de Riobaldo com a psicanálise, com a função libertadora, ainda que limitada, da palavra, com o poder do encontro. Riobaldo poderia estar detrás de um divã, como parece que você está (mas, provavelmente, também nele...). Essa é uma de minhas preferidas, dentre tantas:
"Não devia estar assim relembrando isto, contando assim o sombrio das coisas. Lenga-lenga! Não devia de. O senhor é de fora, meu amigo, mas meu estranho. Mas talvez por isto mesmo. Falar com o estranho assim, que bem ouve e logo longe se vai embora, é um segundo proveito: faz do jeito que eu falasse mais comigo mesmo. Mire veja: o que é ruim, dentro da gente, a gente perverte sempre por arredar mais de si. Para isso é que o muito se fala?"
É para isso que muito se fala - para não arredar mais de si o que é de ruim, para o sombrio das coisas poder iluminar o claro.
Você falou desta 'gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder'. Rosa prossegue: 'O que induz a gente para más ações estranhas é que a gente está pertinho do que é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe!'
Para mim, este livro fala melhor do qualquer outro da experiência de estar em análise. Do fascínio pelo poder da palavra:
'O que eu vi, sempre, é que toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada. Palavra pegante, dada ou guardada, que vai rompendo rumo'
ao medo do que nos assola em tantos momentos do percurso:
'Cada dia, cada hora, a gente aprende uma qualidade nova de medo!'
ou
'O que o medo é: um produzido dentro da gente, um depositado; e que às horas se mexe, sacoleja, a gente pensa que é por causas: por isso ou por aquilo, coisas que só estão é fornecendo espelho. A vida é para esse sarro de medo de se destruir; jagunço sabe. Outros contam de outra maneira.'
Nada, nenhuma obra de psicanálise (exceto minha própria análise pessoal e o trabalho com alguns pacientes que aceitam produzir uma obra desse fôlego) fala melhor sobre essa experiência única.
3 comentários:
Vejo os links de seu blog. Política, psicanálise, literatura e filosofia. No meio das paixões políticas, você traz esse filósofo Riobaldo jagunço, do sertão que gerou o político operário.
Ligações (tantas!) de Riobaldo com a psicanálise, com a função libertadora, ainda que limitada, da palavra, com o poder do encontro. Riobaldo poderia estar detrás de um divã, como parece que você está (mas, provavelmente, também nele...). Essa é uma de minhas preferidas, dentre tantas:
"Não devia estar assim relembrando isto, contando assim o sombrio das coisas. Lenga-lenga! Não devia de. O senhor é de fora, meu amigo, mas meu estranho. Mas talvez por isto mesmo. Falar com o estranho assim, que bem ouve e logo longe se vai embora, é um segundo proveito: faz do jeito que eu falasse mais comigo mesmo. Mire veja: o que é ruim, dentro da gente, a gente perverte sempre por arredar mais de si. Para isso é que o muito se fala?"
É para isso que muito se fala - para não arredar mais de si o que é de ruim, para o sombrio das coisas poder iluminar o claro.
Parabéns pelo seu blog.
Seja bem-vindo.
Sempre...
Obrigado. Voltei e voltarei.
Você falou desta 'gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder'. Rosa prossegue:
'O que induz a gente para más ações estranhas é que a gente está pertinho do que é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe!'
Para mim, este livro fala melhor do qualquer outro da experiência de estar em análise. Do fascínio pelo poder da palavra:
'O que eu vi, sempre, é que toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada. Palavra pegante, dada ou guardada, que vai rompendo rumo'
ao medo do que nos assola em tantos momentos do percurso:
'Cada dia, cada hora, a gente aprende uma qualidade nova de medo!'
ou
'O que o medo é: um produzido dentro da gente, um depositado; e que às horas se mexe, sacoleja, a gente pensa que é por causas: por isso ou por aquilo, coisas que só estão é fornecendo espelho. A vida é para esse sarro de medo de se destruir; jagunço sabe. Outros contam de outra maneira.'
Nada, nenhuma obra de psicanálise (exceto minha própria análise pessoal e o trabalho com alguns pacientes que aceitam produzir uma obra desse fôlego) fala melhor sobre essa experiência única.
Até mais.
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