20.12.06

poeminha para amigo oculto

vicário
a. j.

cultíssimo:
gestos aéreos em
encontros carregados
carrêgo diurno – à noite, descarrégo.

do m’être ao sê-lo
lá se vai uma volta
pelo avesso, in-
verso.

plágio: do entorno
condensado
para o centro
em deslocamento-disperso

referências disseminadas
um truque borgiano
(ele não estava lá
mas lá estavam as palavras)
a bota de dante
o peito de beatriz
o rabo de melville
as traças de heidegger
o cavalo de nietzsche
o joão da pedra

philia desdobra queredor
(querer dor?)
ocultado num gesto simples
de mimesis; mim-
ético.

7 comentários:

Anônimo disse...

O João da Pedra...
Ele também fala sobre o percurso que poderia ser o de uma análise. Mas, afinal, não é mesmo o percurso de uma vida? Aprender pela pedra?

E Melville, com Tanatos:

"Todos nascem com uma corda no pescoço: porém, somente quando se sentem presos pela súbita e vertiginosa roda da morte, os mortais compreendem os sutis e onipresentes perigos da vida. E se fôsseis um filósofo não sentiríeis uma isca a mais de terror, sentado numa baleeira, do que ao entardecer quando repousais junto à lareira familiar, manejando não um arpão e sim um atiçador".
Melville, Moby Dick

E Thoureau, com Eros:
"Toda sensualidade é uma só, embora tome muitas formas (...) Tanto faz se um homem come ou bebe, coabita ou dorme sensualmente. Trata-se de um só apetite, e basta-nos ver uma pessoa a fazer qualquer dessas coisas para avaliar-lhe a sensualidade."
Thoureau, A Vida nos Bosques


Abraços, e um feliz, corajoso e vivo 2007.

Carlos

Anônimo disse...

PS:

Sobre o cavalo de Nietzche (e, por extensão, sobre a literatura no lugar da vida), há uma passagem que pode lhe interessar, de um livro também muito interessante, de Ricardo Piglia:

"Uma das cenas mais famosas da história da filosofia é um efeito do poder da literatura. A comovedora situação em que Nietzsche, ao ver como um cocheiro castigava brutalmente um cavalo caído, se abraça chorando ao pescoço do animal e o beija. Foi em Turim, no dia 3 de janeiro de 1888, e essa data marca, num certo sentido, o fim da filosofia: com este fato começa a loucura de Nietzsche que, como o suicídio de Sócrates, é um esquecimento inesquecível na história da razão ocidental. O notável é que a cena é uma repetição literal de uma situação de Crime e castigo de Dostoiévski (Parte I, Capítulo 5), na qual Raskolnikov sonha com uns camponeses bêbados que batem num cavalo até matá-lo. Dominado pela compaixão, Raskolnikov se abraça ao pescoço do animal caído e o beija.
Ninguém parece ter reparado no bovarismo de Nietzsche, que repete uma cena lida. (A teoria do Eterno Retorno pode ser vista como uma descrição do efeito de memória falsa que a leitura causa.)"

Ricardo Piglia, O Laboratório do Escritor, São Paulo, Iluminuras, 1994

Anônimo disse...

PS2: Esqueci de assinar o segundo post. É de Carlos, também.

Ana Janaina disse...

Oi, Carlos...

Eu sabia que o post era seu...

Não conhecia este trecho do Thoreau, procurarei o livro - tudo o que puder valorizar mais Eros... (você não acha que a psicanálise dá ênfase demais à pulsão de morte?)

Desejo para seu 2007: boa clínica, boa leitura, bons amigos, bons amores...

Espero que nossa conversa virtual ajude nesse intento,

beijos,

ana.

Anônimo disse...

Obrigado! Claro que essa conversa ajuda, como todas as boas conversas.
Mandei uma mensagem para você, naquele endereço do gmail...
Abraços,

Carlos

Anônimo disse...

favoritei seu blog. muito bom!

Anônimo disse...

pois é. achei seu blog procurando opiniões sobre Kapoor. Gostei muito dos seus textos!! Bispo é insubistituivel, e a primeira vez que se vê, muda tanta coisa na alma. eu acho que vi o manto quando tinha menos de 15 anos. mudou muita coisa em mim. Gostei do seu texto sobre o trabalho o Matias (Monteiro). Ele não gosta de me explicar o trabalho dele, mas sua explicação tornou tudo mais fácil de entender, de uma forma que não explicitou, nem tornou nada verdade absoluta, mas simplesmente tentou compreender... ufa!! enfim, gostei, e muito!