Entrevista de Tarso Genro à Carta Maior
CARTA MAIOR: Ministro, por que tentar comprar informações para mostrar que a chamada “operação sanguessuga” começou na época de Serra, se os dados de que 70% das ambulâncias foram liberadas por ele estavam disponíveis nos balanços oficiais da administração?
Tarso Genro: Isso só pode ser fruto de uma política deformada da parte de um partido que não compreendeu não só o período histórico em que vive como também a natureza de um partido democrático e socialista. Trata-se, na verdade, de uma zona cinzenta da moralidade política que se origina de uma visão distorcida de como se faz o combate democrático com base socialista, numa sociedade democrática. Essa cultura deformada é que leva pessoas a adotarem esses métodos. As pessoas têm que ser punidas exemplarmente, é obvio, mas sobretudo essa cultura política é que tem que ser derrotada dentro de nosso partido.
CM: Como? Como derrotar essa cultura política se ela parece se manter depois de tantos episódios negativos? O ultimo episódio não é pá de cal da tese da refundação do PT? Ou é agora que ela pode começar para valer?
TG: É difícil responder como. Mas eu diria que o acaba de acontecer é mais um elemento demonstrativo de que a refundação é radicalmente necessária. Do que trata essa refundação? Se trata de mudar a cultura política do partido no sentido de que o partido não seja um grupo de tendências que disputam burocraticamente a sua hegemonia; trata- se, no contexto dessa nova cultura política, de reorganizar o programa democrático e socialista no sentido de que ele seja mais contemporâneo, trata-se de compreender de uma maneira mais transparente e mais aberta o significado de uma nova política de alianças, contra a globalização tutelada pelo capital financeiro e na defesa de um projeto nacional, a trata-se, sobretudo, de criar relações de solidariedade e de respeito mútuo interno e de combate ao aparelhismo que perseguiu tanto os partidos bolcheviques como os partidos socais-democráticos ao longo da sua história.
(...)
CM: A solução para o PT está dentro do PT?
TG: Sim, a solução para o PT está dentro do PT, está numa nova relação com a sociedade, uma nova relação do PT com as instituições, uma nova relação do PT com o próprio presidente. O que ocorreu durante o primeiro governo, pelo menos em alguns períodos, foi uma confusão entre relações de indivíduos em cargos de direção partidária com cargos na vida pública, e confusão entre a esfera política do estado e a esfera política do partido. O partido não se comportou nesse processo como ente independente que se relacionasse de maneira institucional com o presidente, produzindo idéias e programas. Ao contrário, houve uma diluição dessa responsabilidade o que prejudicou a vida interna do partido de uma parte, e de outra parte empobreceu o governo. Como conseqüência, os méritos do governo são muito maiores como méritos do presidente Lula do que méritos do aparato partidário que lhe deu sustentação.
(...)
CM: Como você vê nesse quadro, as declarações do Ministro Marco Aurélio de Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitora, de que o caso “é mais grave do que o caso Watergate” , que levou à queda de Nixon, e a do presidente da OAB, Roberto Busato, comparando aspectos do quadro atual com a subida de Hitler do poder e ameaçando retomar a bandeira do impeachment depois das eleições? É uma articulação de golpe? Ou uma exacerbação do discurso político?
TG: Institucionalmente na posição que ocupo, preciso limitar minhas palavras; não posso emitir um juízo completo. Portanto vou fazer uma análise mais teórica da situação. Não é adequado que num processo democrático, o presidente de um poder judiciário que vai ter a responsabilidade de julgar, adiante sua opinião sobre uma provável questão jurídica que ainda está sendo processada politicamente. Isso pode desconstituir a relação de equilíbrio entre os poderes e pode fazer com que uma grande parte da população pense que um desses poderes está se partidarizando, um confronto político muito difícil como este que estamos atravessando. A posição da OAB é bastante clara. As posições do doutor Busato são de oposição extrema ao governo. Apesar de todo o diálogo que nós conduzimos, ele retoma e proposta do impeachment o que é nesse momento o somatório de todas as tentativas de desestabilização do processo eleitoral. É extremamente negativo que isso seja feito neste momento mormente vindo de um presidente Busato que sempre teve preocupação pela lisura do processo democrático.
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