Coloco antes do nome da artista - Jenny Holzer - duas palavras: emoção e intelecção. Penso na emoção de ler a frase sobre o móvel de mármore, uma frase tão freudiana, que vai sacudindo meus afetos um a um (e afeto é, de fato, aquilo que nos afeta). Penso em intelecção porque passa pelas palavras, as atravessa no seu percurso de obra de arte, mas não de uma maneira racionalizante (acredito eu), como se Jenny Holzer fizesse poesia de sua maneira palpável, pegável mesmo, mais que concreta, como a frase-referência aos sonhos da razão de Goya (eu acho também) no outdoor do cinema.
Quando coloco estes dois termos antes do nome da artista, não estou querendo dizer o que a artista faz. Não estou qualificando sua obra, não estou lhe dando nenhum nome, nenhuma palavra - ela tem as suas mesmas e isso lhe basta. Estou lhe dando os meus nomes, as minhas palavras, os efeitos de sua obra sobre mim, o caminho, rasteiro, das associações afetivas, as reverberações que fazem de mim um instrumento oco para a ação da obra.
Penso em meu amigo Matias Monteiro, ele também um artista que já enraizou os efeitos de suas obras, sonhos construídos, sobre mim, que também me forçou a lhe oferecer algumas palavras para falar destes efeitos. Penso no que ele diz: "Se umartista quisesse dizer alguma coisa, ele teria dito". Linguagem e arte são, para Matias, excludentes. A interpretação pesa sobre a obra, tentando cercar seus mistérios, tentando lhe abrir as entranhas e mostrar seu funcionamento. Como Matias, muitas vezes, eu prefiro o silêncio - tarefa difícil demais quando se é viciada em palavras.
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