31.8.08

Traduções para Nina

Ain’t Got No …/ I Got Life - Nina Simone

Ain’t got no home, ain’t got no shoes,
[eu não tenho morada, estou fora da Casa, sem andança, eu tenho apenas meus pés
Ain’t got no money, ain’t got no class,
[sem moedas, eu estou fora da luta de classes, fora das classes, nem o Marxismo me acolhe
Ain’t got no friends, ain’t got no schoolin’,
[não tenho amigos, isso não me serve, estou fora das salas, não tenho escolaridade, a Escola não me cabe
Ain’t got no wear, ain’t got no job,
[sem roupas, eu não tenho emprego nem Trabalho, nem carteira, estou fora dos sindicatos
Ain’t got no money, no place to stay
[sem Dinheiro, sem lugar para ficar, sem passagem, sem lugar para ir, estou fora da Geografia

Ain’t got no father, ain’t got no mother,
[sem pai, sem mãe, sem filhos ou irmãs ou irmãos
Ain’t got no children, ain’t got no sisters or brothers
[fora de Família, da instituição, da Cultura, a cultura não me cabe

Ain’t got no earth, ain’t got no faith
[não tenho terra nem Terra, sem fé, estou fora da Religião,
Ain’t got no church, ain’t got no God
[não tenho igreja, eu estou fora de Deus, Deus não me cabe
Ain’t got no love …
[sem nome, sem Amor, este amor não me cabe
Ain’t got no wine, no cigarrettes
[sem vinhos ou cigarros, os vôos da Classe Média não me fazem feliz
No clothes, no country
[sem classe, nem País, eu não tenho língua pátria
No class, no schoolin’
[sem classe, nem escolaridade, eu não tenho diplomas
No friends, no nothing
[nem amigos, nem nada, mas eu tenho Nada
Ain’t got no God, ain’t got one more
[sem Deus e ainda há mais, bem mais que eu não tenho

Ain’t got no earth, no water,
[eu não tenho terra ou água ou motivos para ter um ou outro
no food, no home,
[ou comida ou casa, eu não quero um teto e não quero um chão
I said ain’t got no clothes, no job
No nothing, ain’t got no believes,
[eu não tenho Crenças
and ain’t got no love

But what have I got?, What have I got?,
[o que eu tenho? onde estou?
Let me tell you what I’ve got
[me diga o que eu tenho, se estou viva, afinal
cause nobody is gonna take away
[algo que ninguém me tire
unless I wanna to
[a não ser que eu queira perder isso

I got my hair, and my head
[eu tenho meu cabelo negro, espesso, uma cabeça curva
my brains, my ears
[meu cérebro, exatamente como o seu, meus ouvidos e meus sons
my eyes, my nose
[meu olhos, meu nariz, meus cheiros
and my mouth, I got my smile
[minha boca, meu sorriso, meus dentes
I got my tongue, my chin
[minha língua cheia de palavras, meu queixo aponta o caminho
my neck, my bubbies
[meu pescoço, meus peitos
my heart, my soul
[meu coração e minha alma, que não valem tanto
and my back, I got my sex
[minhas costas, minha bunda, meu sexo
I got my arms, my hands
[meus braços e minhas mãos que avançam pela multidão, que tocam o piano
my fingers, my legs
[meus dedos e pernas
my feet, my toes
[meus pés e meus dedos
and my liver, Got my blood
[fígado e sangue
I got life , I got lifes,
[eu tenho minha vida e nenhum sistema (teológico, marxista, patriótico), nenhuma rede de sustentação, nenhuma faixa de proteção
I got a headache, and toothache,
[e dores de cabeça e dores de dente e dores do corpo
and bad times too, like you
[e dores da alma, como você

I got my hair, my head
[e este meu cabelo preto que sobe para o alto da cabeça
my brains, my ears
[e meu cérebro e orelhas aos lados da cabeça
my eyes, my nose
[e olhos diretos, objetivos, e nariz
and my mouth, I got my smile
[boca, sorriso...
and is my smile

I got life, I’ve got my freedom,
[tenho minha vida e minha liberdade – eu não posso fazer tudo, mas não estou ligada à nada
and my heart, I got life

_______

“Podemos contrastar a política de identidade com uma política de diferenças em que as identidades são encontradas a partir das diferenças que fazem com que as pessoas se encontrem nas posições em que elas se encontram––enxerguem do ponto de vista que elas enxergam. Audre Lorde (Zami, a new spelling of my name , 226) outra vez pode ajudar a imaginar o que fazer com as diferenças, ela fala da transformação que provoca o abandono da identidade como medida de todas as comunhões:

Sermos mulheres juntas não era suficiente.
Nós éramos diferentes.
Sermos garotas lésbicas juntas não era suficiente.
Nós éramos diferentes.
Sermos negras juntas não era suficiente.
Nós éramos diferentes.
Sermos mulheres negras juntas não era suficiente
Nós éramos diferentes.
Sermos lésbicas negras juntas não era suficiente
Nós éramos diferentes.
Demorou algum tempo até percebermos que nosso lugar era a casa da diferença ela mesma, ao invés da segurança de qualquer diferença em particular.


Na casa das diferenças, as relações de confiança dão mais trabalho: não há alianças naturais, não há inimigos comuns que estabelecem a agenda, não há regras insinuadas pelo corpo.”

Hilan Bensusan, Mais confiança?

Nenhum comentário: