Todos perderam, todos ganharam
João Villaverde
Depois de iniciado o massacre promovido pelas tropas do Tsahal, exército israelense, os objetivos ficaram claros: A) mais um passo no processo de limpeza dos palestinos na região e B) as eleições para primeiro-ministro em Israel, que ocorrerão em fevereiro próximo.
Mais que isso. Após a truculência irracional e criminosa contra a Faixa de Gaza, estava claro que havia uma data de término para o massacre: ele não poderia ultrapassar o dia 20 de janeiro, data da posse de Barack Obama como 44º presidente dos Estados Unidos. Uma data histórica e crucial para o maior parceiro ideológico, militar e econômico do Estado judeu.
Os laços entre EUA e Israel são históricos também. E nos mais recentes conflitos em Gaza, a relação entre os dois países também passou por uma data importante nos EUA. Em junho, membros do Hamas, movimento político militar eleito democraticamente pelos palestinos para liderar Gaza a partir de 2006, fecharam um acordo de cessar-fogo com Israel, válido por seis meses. Antes do acordo expirar, Israel rompeu o estabelecido com um ataque rápido e letal que matou sete palestinos. O dia do ataque? 04 de novembro do ano passado. Dia das eleições presidenciais nos EUA. Havia pouca atenção dispensada para Gaza naquele dia. Quem lembrou disso não foi um membro do Hamas ou um representante da ONU ou quem quer que seja interessado no conflito. Foi Jimmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos (1977-1980). Veja aqui.
É importante perceber que estamos lidando com um Estado que não respeita qualquer regra internacional de direitos humanos. Que descumpre as regras que ele mesmo propôs. Não, não são os Estados Unidos (dessa vez). Mas Israel. Mais um exemplo? Clique aqui. Outro? Aqui.
Na semana passada Israel promoveu seus ataques mais sangrentos, matando centenas em poucas horas, incluindo o número três do Hamas. Os ataques mais fortes tinham uma meta: aterrorizar no final, marcando posição militar e medo psicológico entre os palestinos sobreviventes. Israel anunciou um cessar-fogo unilateral ontem, sábado, dia 17 de janeiro. Ganhou as capas e manchetes da mídia internacional hoje, domingo. E deixa o campo diplomático livre para a posse de Obama na terça dia 20. Conforme este Blog antecipou, em análise publicada na sexta-feira, dia 16, durante o 22º e penúltimo dia de massacre.
A direita israelense sai fortalecida para as eleições internas de fevereiro. Embora a oposição política tenha se posicionado contrária a guerra desde o início, ganhando simpatizantes ao redor do mundo, a direita - que atualmente está no poder - saí muito mais forte, com a "defesa da soberania nacional" e os "brios do povo israelense" em alta.
Como se previra, Israel se diz vitorioso por ter esmagado o Hamas, que ele não reconhece como partido político. O Hamas se diz vitorioso por ter resistido aos ataques de um dos maiores exércitos do mundo, que ele não reconhece como Estado. A União Européia se diz vitoriosa por ter conseguido convencer os líderes de Israel a cessar-fogo. Os Estados Unidos se dizem vitoriosos por seguirem o discurso de Israel, que não reconhece o Hamas. Obama agradece, claro.
Mas as coisas estão ainda piores. As massas ainda mais fundamentalistas, os israelenses racistas, os americanos adesistas, a ONU inutilizada, os pacifistas ridicularizados e o mundo ainda mais entorpecido pelas falta de reação frente ao extermínio criminoso de crianças, mulheres, homens, de todo um povo, que continua expulso de um território.
2009 começa e a Palestina continua ocupada.
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Lá em cima, no primeiro parágrafo falei que a guerra promovida por Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza é mais um passo na limpeza dos palestinos da região. Não foi uma observação vazia. Há um revisionismo entre historiadores da região, cada vez mais percebendo que o que houve na Palestina desde os anos 30 e 40 foi, basicamente, uma limpeza étnica. Muitos desses historiadores são judeus. Entre eles, Ilan Pappé lançou no início de 2008 um livro que é best-seller nos EUA desde então: "The Ethnic Cleansing of Palestine" ("A Limpeza Étinca da Palestina"). Consegui comprar uma edição em inglês, que pretendo começar a ler nos próximos dias. Até lá, um início de debate: ótima entrevista de Pappé à Globonews > aqui.
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