18.3.09

Lucky Thirteen

Premissa 1 – Inquietação: A angústia é um afeto sem objeto, em que a excitação do corpo não encontra representante psíquico, manifestando-se na forma de fenômenos somáticos: falta de ar, arritmia, taquicardia, distúrbios gástricos, vertigens, etc.


Premissa 2 – Eros: A sexualidade é campo fértil para atuações.


Hipótese: Eros como defesa contra angústia e reafirmação/dissolução das posições de sujeito e objeto.


Sem representante psíquico, sem objeto, a angustia despeja-se sobre o corpo, dispara sobre ele, sem paradas, sem passagens, sem travessias, na forma de inquietação (uma paciente diz: “Está me beliscando. Jogaram pó de mico por dentro da minha pele”). Não há nome – a angústia é pergunta viva, ou melhor, é incômodo maior, não há sequer pergunta porque uma pergunta poderia ser, talvez, a pista para encontrar uma resposta. (Perguntam: “Fica quieta – o que é que você tem?”. Suspiro. “Eu não sei.”)


Na angústia, como um convite implícito, multiplicam-se as atuações, sendo Eros território privilegiado para isso - promiscuidade, sexo vazio, relações aleatórias. Não que Eros seja a resposta que o sujeito angustiado procura ou mesmo a pergunta que a antecede e lhe dá forma. Mas Eros espalha a inquietude do corpo, a absolve temporariamente – um balão que perde ar e altitude; uma doença que regride; o desaparecimento de uma aparição - até o seu retorno.


Mas, ainda assim, o sujeito arrisca tudo nesta busca.


Sob o signo de Eros, o sujeito reafirma sua posição: tomo o outro como objeto, ignoro sua subjetividade e faço dele só corpo para que minha própria subjetividade angustiada desapareça. Ignorando o desejo do outro, não preciso me responsabilizar pelo meu desejo – ignorando o motor individual de qualquer ação, insisto num apagamento das fronteiras narcísicas, procuro dissolução do eu e todas as suas infinitas e tediosas complicações. Que eu viva apenas como resultado de um empuxo, uma força gravitacional sem nome e que também não exige que eu reconheça – ou dê nome – aos meus desejos.


Sob a angústia, o desejo é só teia, captura - inescapável. Não podendo lutar contra um inimigo sem nome, mas que insiste em chamar para a batalha, me lanço em transgressões que me esqueçam, me fazendo nada mais que uma oferenda a um Outro.


Quando a singularidade do outro não me ameaça, quando consigo ver, sem tremer, estes restos de humanidade que eu represento, o desejo é vereda e convite e as posições de sujeito e objeto alternam-se dialeticamente, suavemente, como na respiração de um órgão, nas paredes que se aproximam e se afastam...


Que Eros seja palco de ambas as transgressões.


Francis Bacon, "Self-Portrait", 1971

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