Aos olhos do analisando que é um caso-limite, o analista possui um tal poder. É aquele que impõe o contrato - esquecendo-se de que o analista, ele também, se submete a ele. A desigualdade evidente, a favor do analista, torna-se, na circunstância, lei iníqua, despótica. A neutralidade é tomada como indiferença marcada de crueldade. Silencioso, o analista dá testemunho de seu desprezo altivo. Se rompe sua reserva para interpretar que sua interpretação nunca é tomada como uma sugestão interessante de se considerar, suscetível de lançar uma clareza libertadora sobre o caos obscuro do qual o analisando queixa-se de ser prisioneiro: ela é um diktat, a pegar ou largar. Seria ela verdadeira porque reavivaria a humilhação de recorrer à ajuda de alguém que saberia melhor que ele mesmo, o que se quer dizer. De qualquer forma, não está o analisando deitado, nessa posição infantilizadora, enquanto o analista o domina do mais alto de sua posição sentada? Daria o analista uma prova de solicitude? É bem a demonstração de seu insuportável paternalismo. Deixa-se, ele, levar ao fastio? Vê-se que ele não se importa com o vosso sofrimento. E se, relaxando o controle da situação para dar um pouco de azo à espontaneidade, reagir de maneira um pouco mais viva é porque procura seduzir ou punir, de qualquer forma, rejeitar. Reclama dos honorários, só lhe interessa o dinheiro; se tratar de graça, ou quase (numa instituição, por exemplo), é porque precisa de cobaias ou porque oprime, com sua comiseração, o analisando desarmado.
André Green, Après-coup l'archaïque.
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