Bender, "Futurama"
28.10.07
25.10.07
Contra a Lei Maria da Penha
Da Folha Online (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u339568.shtml):
'Fui mal interpretado', diz juiz que ligou mulher à desgraça"
JOHANNA NUBLAT da Folha de S.Paulo
O juiz Edilson Rumbelsperger Rodrigues, 52, de Sete Lagoas (MG), disse ontem que foi mal-interpretado na sentença em que considera inconstitucional a Lei Maria da Penha, um marco da defesa da mulher contra a violência doméstica.
Na sentença, cujos principais trechos foram divulgados pela Folha no último domingo, Rodrigues se refere à lei como um "monstrengo tinhoso" e "um conjunto de regras diabólicas". Com a sentença, afirmou, estava "defendendo a mulher".
"Vocês mulheres são usadas em discurso de campanha e num feminismo que não faz vocês felizes", disse Rodrigues, que é divorciado e está no segundo casamento.
Pai de quatro filhos --o mais novo de três anos--, ele culpa, na sentença, a lei por tornar o homem um "tolo" e cita a Bíblia para dizer que a "desgraça" humana começa com a mulher.
Em nota divulgada ontem, o juiz coloca a pergunta: "Tivesse eu me valido de poetas como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto ou Guimarães Rosa (...) talvez não estaria também sendo criticado! Por que, então, não posso --ainda que uma vez na vida, outra na morte-- citar Jesus, se é Ele o poeta dos poetas e o filósofo dos filósofos?".
Ao explicar o que quis dizer com "o mundo é e deve continuar sendo masculino ou de prevalência masculina", frase que consta da sentença, o juiz usou um exemplo.
Disse que, no caso de impasse entre um casal, numa situação doméstica, a posição do homem deveria prevalecer até posterior decisão da Justiça, já que "não será do agrado da esposa que fosse o inverso, porque, repito, a mulher não suporta o homem emocionalmente frágil, pois é exatamente por ele que ela quer se sentir protegida".
Ainda na nota, Rodrigues explica que considerou a lei inconstitucional por tratar apenas da mulher e ignorar a condição doméstica do homem. Depois de dar entrevista a jornais locais, o juiz falou com a Folha por telefone. Evitou explicar as expressões usadas na sentença (como "o mundo é masculino!!" e "Jesus era homem!"), disse que preferia utilizar as explicações contidas na nota.
Do Blog do Noblat (http://oglobo.globo.com/pais/noblat/#78397):
Juiz terá que se explicar no Senado
Oito senadoras assinaram um requerimento protocolado há pouco na Comissão de Constituição e Justiça do Senado exigindo esclarecimentos do juiz que classificou a Lei Maria da Penha como "um conjunto de regras diabólicas".
Ao julgar um processo de violência doméstica, o Juiz da 1ª Vara Criminal e de Menores de Sete Lagoas, em Minas Gerais, Edilson Rumbelsperger Rodrigues, pegou pesado e argumentou: "Ora, a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher, todos nós sabemos, mas também em virtude da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem (...) O mundo é masculino! A idéia que temos de Deus é masculina! Jesus foi homem!" (leia mais).
A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), além da petista Fátima Cleide (RO) tomaram a iniciativa de preparar o requerimento e conseguir apoio das senadoras. Roseana Sarney (PMDB-MA) e Marisa Serrano (PSDB-MG) - que não assinaram por estarem fora de Brasília - mandaram avisar que apóiam o requerimento.
A Lei Maria da Penha aumenta o rigor nas penas para agressões contra a mulher. O nome é uma homenagem à Maria da Penha Maia, que ficou paraplégica após duas tentativas de assassinato pelo próprio marido.
'Fui mal interpretado', diz juiz que ligou mulher à desgraça"
JOHANNA NUBLAT da Folha de S.Paulo
O juiz Edilson Rumbelsperger Rodrigues, 52, de Sete Lagoas (MG), disse ontem que foi mal-interpretado na sentença em que considera inconstitucional a Lei Maria da Penha, um marco da defesa da mulher contra a violência doméstica.
Na sentença, cujos principais trechos foram divulgados pela Folha no último domingo, Rodrigues se refere à lei como um "monstrengo tinhoso" e "um conjunto de regras diabólicas". Com a sentença, afirmou, estava "defendendo a mulher".
"Vocês mulheres são usadas em discurso de campanha e num feminismo que não faz vocês felizes", disse Rodrigues, que é divorciado e está no segundo casamento.
Pai de quatro filhos --o mais novo de três anos--, ele culpa, na sentença, a lei por tornar o homem um "tolo" e cita a Bíblia para dizer que a "desgraça" humana começa com a mulher.
Em nota divulgada ontem, o juiz coloca a pergunta: "Tivesse eu me valido de poetas como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto ou Guimarães Rosa (...) talvez não estaria também sendo criticado! Por que, então, não posso --ainda que uma vez na vida, outra na morte-- citar Jesus, se é Ele o poeta dos poetas e o filósofo dos filósofos?".
Ao explicar o que quis dizer com "o mundo é e deve continuar sendo masculino ou de prevalência masculina", frase que consta da sentença, o juiz usou um exemplo.
Disse que, no caso de impasse entre um casal, numa situação doméstica, a posição do homem deveria prevalecer até posterior decisão da Justiça, já que "não será do agrado da esposa que fosse o inverso, porque, repito, a mulher não suporta o homem emocionalmente frágil, pois é exatamente por ele que ela quer se sentir protegida".
Ainda na nota, Rodrigues explica que considerou a lei inconstitucional por tratar apenas da mulher e ignorar a condição doméstica do homem. Depois de dar entrevista a jornais locais, o juiz falou com a Folha por telefone. Evitou explicar as expressões usadas na sentença (como "o mundo é masculino!!" e "Jesus era homem!"), disse que preferia utilizar as explicações contidas na nota.
Do Blog do Noblat (http://oglobo.globo.com/pais/noblat/#78397):
Juiz terá que se explicar no Senado
Oito senadoras assinaram um requerimento protocolado há pouco na Comissão de Constituição e Justiça do Senado exigindo esclarecimentos do juiz que classificou a Lei Maria da Penha como "um conjunto de regras diabólicas".
Ao julgar um processo de violência doméstica, o Juiz da 1ª Vara Criminal e de Menores de Sete Lagoas, em Minas Gerais, Edilson Rumbelsperger Rodrigues, pegou pesado e argumentou: "Ora, a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher, todos nós sabemos, mas também em virtude da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem (...) O mundo é masculino! A idéia que temos de Deus é masculina! Jesus foi homem!" (leia mais).
A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), além da petista Fátima Cleide (RO) tomaram a iniciativa de preparar o requerimento e conseguir apoio das senadoras. Roseana Sarney (PMDB-MA) e Marisa Serrano (PSDB-MG) - que não assinaram por estarem fora de Brasília - mandaram avisar que apóiam o requerimento.
A Lei Maria da Penha aumenta o rigor nas penas para agressões contra a mulher. O nome é uma homenagem à Maria da Penha Maia, que ficou paraplégica após duas tentativas de assassinato pelo próprio marido.
22.10.07
Militante da Via Campesina é assassinado no PR
(E de pensar que, quando a Syngenta lançou nota dizendo que não utiliza "força" ou "armas" para proteger seus campos, ninguém foi ouvir a Via Campesina para que eles dessem uma declaração...)
Militante da Via Campesina é assassinado no PR
Marco Aurélio Weissheimer
PORTO ALEGRE - Valmir Mota, militante da Via Campesina, foi assassinado com dois tiros no peito, ontem à tarde, em Santa Tereza do Oeste, no Paraná. Segundo a Via Campesina, Valmir foi executado por um grupo de cerca de 40 pistoleiros no acampamento do campo de experimentos da empresa multinacional Syngenta Seeds. Outros seis integrantes da Via Campesina ficaram gravemente feridos. Fábio Ferreira, que integrava o grupo de seguranças armados, também morreu. Entre os feridos o caso mais grave é o de Izabel Nascimento de Souza, que está em coma e corre risco de morte.
A ação dos pistoleiros ocorreu depois que cerca de 150 integrantes do movimento reocuparam o campo de experimentos da empresa para denunciar o cultivo ilegal de sementes transgênicas de soja e milho. Conforme o relato da Via Campesina, por volta das 13h30min, cerca de 40 homens fortemente armados chegaram, em um micro-ônibus, ao portão da entrada da área e desceram atirando nos manifestantes.
Além de Valmir, atingido com dois tiros, outros cinco agricultores foram baleados e Isabel Nascimento de Souza foi espancada. Ainda segundo a Via Campesina, a Syngenta contratou serviços de segurança que atuavam de forma irregular na região, articulados com a Sociedade Rural da Região Oeste (SRO) e com o Movimento dos Produtores Rurais (MPR).Uma das diretoras da empresa de segurança NF foi presa no início de outubro e o proprietário da mesma fugiu durante uma operação da Polícia Federal que apreendeu munições e armas ilegais. Segundo a organização de trabalhadores rurais, há indícios de que a empresa é contratada como fachada, para encobrir a ação de pistoleiros que formariam uma milícia armada que atua praticando despejos violentos e ataques a acampamentos na região.No dia 18 de outubro, a atuação de milícias armadas ligadas à SRO/MPR e Syngenta na região Oeste do Paraná foi denunciada durante uma audiência pública coordenada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal dos Deputados (CDHM), em Curitiba. Agora, a Via Campesina cobra da justiça a apuração do ataque, contra os trabalhadores do acampamento, que juntamente com o assentamento Olga Benário lutam para transformar a área num Centro de Agroecologia e de reprodução de sementes crioulas para a agricultura familiar e reforma agrária.
O campo de experimentos da Syngenta foi ocupado pela primeira vez, em março de 2006, para denunciar o cultivo ilegal de sementes transgênicas. Após 16 meses de ocupação, no dia 18 de julho deste ano, as 70 famílias que participaram da ação desocuparam a área e foram para um local provisório no assentamento Olga Benário, também em Santa Tereza do Oeste.
Sete homens já foram presos
A Secretaria de Segurança do Paraná informou que sete homens que atacaram os agricultores já foram presos e disseram que foram contratados pelo Movimento dos Produtores Rurais para retirar pessoas que tentassem invadir a área. Eles foram autuados por formação de quadrilha, homicídio e exercício arbitrário das próprias razões. Após o confronto, os seguranças teriam fugido a pé e acabaram sendo encontrados e presos num barracão abandonado a cerca de seis quilômetros da fazenda da Syngenta. O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), determinou que a polícia fique de prontidão nas imediações da área para evitar novos conflitos.
Em nota oficial, a Syngenta disse que “lamenta profundamente o incidente ocorrido durante nova invasão” e promete colaborar com as autoridades locais na apuração do que ocorreu. Ainda é prematuro fazer uma avaliação definitiva sobre o ocorrido, acrescenta a nota que assegura que a “a política global da companhia determina que não se use força ou armas para proteger suas unidades”.
Militante da Via Campesina é assassinado no PR
Marco Aurélio Weissheimer
PORTO ALEGRE - Valmir Mota, militante da Via Campesina, foi assassinado com dois tiros no peito, ontem à tarde, em Santa Tereza do Oeste, no Paraná. Segundo a Via Campesina, Valmir foi executado por um grupo de cerca de 40 pistoleiros no acampamento do campo de experimentos da empresa multinacional Syngenta Seeds. Outros seis integrantes da Via Campesina ficaram gravemente feridos. Fábio Ferreira, que integrava o grupo de seguranças armados, também morreu. Entre os feridos o caso mais grave é o de Izabel Nascimento de Souza, que está em coma e corre risco de morte.
A ação dos pistoleiros ocorreu depois que cerca de 150 integrantes do movimento reocuparam o campo de experimentos da empresa para denunciar o cultivo ilegal de sementes transgênicas de soja e milho. Conforme o relato da Via Campesina, por volta das 13h30min, cerca de 40 homens fortemente armados chegaram, em um micro-ônibus, ao portão da entrada da área e desceram atirando nos manifestantes.
Além de Valmir, atingido com dois tiros, outros cinco agricultores foram baleados e Isabel Nascimento de Souza foi espancada. Ainda segundo a Via Campesina, a Syngenta contratou serviços de segurança que atuavam de forma irregular na região, articulados com a Sociedade Rural da Região Oeste (SRO) e com o Movimento dos Produtores Rurais (MPR).Uma das diretoras da empresa de segurança NF foi presa no início de outubro e o proprietário da mesma fugiu durante uma operação da Polícia Federal que apreendeu munições e armas ilegais. Segundo a organização de trabalhadores rurais, há indícios de que a empresa é contratada como fachada, para encobrir a ação de pistoleiros que formariam uma milícia armada que atua praticando despejos violentos e ataques a acampamentos na região.No dia 18 de outubro, a atuação de milícias armadas ligadas à SRO/MPR e Syngenta na região Oeste do Paraná foi denunciada durante uma audiência pública coordenada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal dos Deputados (CDHM), em Curitiba. Agora, a Via Campesina cobra da justiça a apuração do ataque, contra os trabalhadores do acampamento, que juntamente com o assentamento Olga Benário lutam para transformar a área num Centro de Agroecologia e de reprodução de sementes crioulas para a agricultura familiar e reforma agrária.
O campo de experimentos da Syngenta foi ocupado pela primeira vez, em março de 2006, para denunciar o cultivo ilegal de sementes transgênicas. Após 16 meses de ocupação, no dia 18 de julho deste ano, as 70 famílias que participaram da ação desocuparam a área e foram para um local provisório no assentamento Olga Benário, também em Santa Tereza do Oeste.
Sete homens já foram presos
A Secretaria de Segurança do Paraná informou que sete homens que atacaram os agricultores já foram presos e disseram que foram contratados pelo Movimento dos Produtores Rurais para retirar pessoas que tentassem invadir a área. Eles foram autuados por formação de quadrilha, homicídio e exercício arbitrário das próprias razões. Após o confronto, os seguranças teriam fugido a pé e acabaram sendo encontrados e presos num barracão abandonado a cerca de seis quilômetros da fazenda da Syngenta. O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), determinou que a polícia fique de prontidão nas imediações da área para evitar novos conflitos.
Em nota oficial, a Syngenta disse que “lamenta profundamente o incidente ocorrido durante nova invasão” e promete colaborar com as autoridades locais na apuração do que ocorreu. Ainda é prematuro fazer uma avaliação definitiva sobre o ocorrido, acrescenta a nota que assegura que a “a política global da companhia determina que não se use força ou armas para proteger suas unidades”.
17.10.07
O poder é sempre limitado, falível, contestável. Ninguém dispõe dele absolutamente, apesar das aparências, assim como ninguém está totalmente desprovido dele, mesmo que fosse apenas o poder de amar ou não, de ser amado ou detestado pelo outro. O poder a gente herda ou conquista-se, aumenta ou diminui, perde-se mais, ou menos. A um poder contrapõe-se sempre um contrapoder. O poder perde-se ou divide-se. Reparte-se na relação com o outro. A potência, ao contrário, no sentido que lhe dou aqui, confere a quem a possui uma força absoluta aos olhos do outro. Ela é sempre pouco ou muito divina (ou diabólica), sempre sobre-humana.
Aos olhos do analisando que é um caso-limite, o analista possui um tal poder. É aquele que impõe o contrato - esquecendo-se de que o analista, ele também, se submete a ele. A desigualdade evidente, a favor do analista, torna-se, na circunstância, lei iníqua, despótica. A neutralidade é tomada como indiferença marcada de crueldade. Silencioso, o analista dá testemunho de seu desprezo altivo. Se rompe sua reserva para interpretar que sua interpretação nunca é tomada como uma sugestão interessante de se considerar, suscetível de lançar uma clareza libertadora sobre o caos obscuro do qual o analisando queixa-se de ser prisioneiro: ela é um diktat, a pegar ou largar. Seria ela verdadeira porque reavivaria a humilhação de recorrer à ajuda de alguém que saberia melhor que ele mesmo, o que se quer dizer. De qualquer forma, não está o analisando deitado, nessa posição infantilizadora, enquanto o analista o domina do mais alto de sua posição sentada? Daria o analista uma prova de solicitude? É bem a demonstração de seu insuportável paternalismo. Deixa-se, ele, levar ao fastio? Vê-se que ele não se importa com o vosso sofrimento. E se, relaxando o controle da situação para dar um pouco de azo à espontaneidade, reagir de maneira um pouco mais viva é porque procura seduzir ou punir, de qualquer forma, rejeitar. Reclama dos honorários, só lhe interessa o dinheiro; se tratar de graça, ou quase (numa instituição, por exemplo), é porque precisa de cobaias ou porque oprime, com sua comiseração, o analisando desarmado.
Aos olhos do analisando que é um caso-limite, o analista possui um tal poder. É aquele que impõe o contrato - esquecendo-se de que o analista, ele também, se submete a ele. A desigualdade evidente, a favor do analista, torna-se, na circunstância, lei iníqua, despótica. A neutralidade é tomada como indiferença marcada de crueldade. Silencioso, o analista dá testemunho de seu desprezo altivo. Se rompe sua reserva para interpretar que sua interpretação nunca é tomada como uma sugestão interessante de se considerar, suscetível de lançar uma clareza libertadora sobre o caos obscuro do qual o analisando queixa-se de ser prisioneiro: ela é um diktat, a pegar ou largar. Seria ela verdadeira porque reavivaria a humilhação de recorrer à ajuda de alguém que saberia melhor que ele mesmo, o que se quer dizer. De qualquer forma, não está o analisando deitado, nessa posição infantilizadora, enquanto o analista o domina do mais alto de sua posição sentada? Daria o analista uma prova de solicitude? É bem a demonstração de seu insuportável paternalismo. Deixa-se, ele, levar ao fastio? Vê-se que ele não se importa com o vosso sofrimento. E se, relaxando o controle da situação para dar um pouco de azo à espontaneidade, reagir de maneira um pouco mais viva é porque procura seduzir ou punir, de qualquer forma, rejeitar. Reclama dos honorários, só lhe interessa o dinheiro; se tratar de graça, ou quase (numa instituição, por exemplo), é porque precisa de cobaias ou porque oprime, com sua comiseração, o analisando desarmado.
André Green, Après-coup l'archaïque.
14.10.07
vértice
…de repente, o vértice roda, cria vertigem, como na música de Madredeus – um tango, o dedilhado tenso da viola crescendo, a reflexão de um violino e uma sanfona, subindo e descendo o fôlego, um tango de amor e abandono, até que a música gira quando ela diz “esquece”, com tanta dor e tanto pedido – então as coisas rodam e se condensam numa solene confusão – as palavras de G., tão cheias de empáfia, o discurso e seu mestre, como eu poderia saber? eu disse apenas nenhum conhecimento é completo, todo conhecimento precisa eternamente de reparos, este e outros rechaços que recebo, será que eu nunca aprendo? – então, neste mínimo momento, boas maneiras, educação e sociabilidade desaparecem, são eclipsadas para que todo incômodo e todo mal-estar surjam numa única palavra, uma única informação, num único olhar, até que eu pude me recolher novamente, não conseguindo não deixar para trás este rastro de ressentimento, esta meleca de desgosto e rancor, grudada no chão, embaixo da mesa e, num piscar de olhos, eu tenho esta coisa viva agora para cuidar, esta coisa que pulsa e aumenta, que eu tenho que matar mesmo sabendo que não irá embora sem fazer suas conseqüências – noites atrás, uma boa lembrança, de festa e conversa, agitação sem maiores efeitos (eu morro de medo das conseqüências das minhas agitações), um contato tão interessante que tem como inescapável conseqüência também me fazer recuar, tempo para que eu possa desaparecer, para que eu faça de mim mesma não mais que uma série de aparições periódicas, regulares, como pulsações de um moribundo, uma assombração que nada pode capturar – assim, a vontade de desvanecimento, de eclipse – mas ainda há espaço para Fédia e Ana, naquele terrível verão em Baden-Baden – penso que para os amigos todo o amor, que para o amor todo o amor, que para os desconhecidos toda a esperança e toda a defesa, mas e para aqueles que ficam num espaço intermediário, num meio termo, um meio terreno de invasores? percebo a raiva que se concentra no plasma do sangue, que invade pela ponta dos dedos, sustentada em detalhes que tomam o lugar do todo, do quadro maior, da cena completa, e o que fazer com esta agressividade?, quando pequena, eu estapeava outras crianças – virar então uma red-skin adulta, onde a ideologia é justificativa para fazer sangue, será a violência, de fato, sagrada?, não, a destinação desta raiva é não mais que um tremor atravessando o ar mais denso, então, o nada, a dissipação, porque, “no fundo, eu também sou um sentimental”, “e se a sentença se apresenta bruta, mais que depressa a mão cega executa, pois que senão o coração perdoa”...
6.10.07
Portrait of the Poet as Landscape
It is possible that he is dead, and not discovered.
It is possible that he can be found some place
In a narrow closet, like a corpse in a detective story,
Standing, his eyes staring, and ready to fall on his face...
We are sure that from our real society
He has disappeared; he simply does not count,
Except in the pullulation of vital statistics -
Somebody's vote, perhaps, an anonymous taunt
Of Gallup poll, a dot in a government table -
But not felt, and certainly far from eminent -
In a shouting mob, somebody's sigh.
O, he who unrolled our culture from his scroll -
The prince's quote, the rostrum-sounding roar -
Who under one name made articulate
Heaven, and under another the seven-circled air,
Is, if he is at all, a number, an x,
a Mr Smith in a hotel register -
Incognito, lost, lacunal.
It is possible that he can be found some place
In a narrow closet, like a corpse in a detective story,
Standing, his eyes staring, and ready to fall on his face...
We are sure that from our real society
He has disappeared; he simply does not count,
Except in the pullulation of vital statistics -
Somebody's vote, perhaps, an anonymous taunt
Of Gallup poll, a dot in a government table -
But not felt, and certainly far from eminent -
In a shouting mob, somebody's sigh.
O, he who unrolled our culture from his scroll -
The prince's quote, the rostrum-sounding roar -
Who under one name made articulate
Heaven, and under another the seven-circled air,
Is, if he is at all, a number, an x,
a Mr Smith in a hotel register -
Incognito, lost, lacunal.
A. M. Klein
[In "Negociando com os mortos", Margaret Atwood]
Leituras bizarras...
"A local" era usada desde 1884, injetada no músculo, em determinados nervos, na medula ou simplesmente passada na superfície do olho, da língua ou do nariz. O poder mágico da cocaína foi famosamente explorado pelo vienense Carl Koller (1857-1944), cirurgião de olhos. Se Freud não tivesse saído de férias com sua noiva, na ocasião, teria se tornado um aclamado pioneiro anestesista e poupado ao mundo muita introspecção angustiosa.
A Assustadora História da Medicina, Richard Gordon
Duas Mulheres
O samba malandro: Mart'nália
A dignidade do samba: Teresa Cristina
[http://www.martnalia.com.br/]
[http://www.teresacristinaesemente.com.br/]
A dignidade do samba: Teresa Cristina
[http://www.martnalia.com.br/]
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