19.5.07

tambor lacaniano

o regente é o pai que instaura a lei entre dezenas de mulheres. a lei é instaurada em língua própria: pra-ga-dá tu-gu-dum pra-ga-dá tu-gu-dum cha-cha cha-cha. isso é sofejar, cantar na voz humana a voz do instrumento. “tam-bor”, diz alguém, separando bem as sílabas, “já está aí, ‘eu vou tocar tam-bor’, é só você ouvir...”

o nome-do-pai é giba ou tutuca – onomatopéico? o nome próprio, o próprio nome-metonímia... entre o surdo e o repique, ele deve “opor a vertigem do aceleramento à vertigem do retarde”, a ordem dos instrumentos ao transe do corpo. (me faz pensar que a diferença entre ordem e obsessão é que a primeira é uma busca estética, um sentido de beleza muito específico, enquanto que a segunda é um evitar da angústia.)

o par de surdos é descendente direto dos tambores sagrados dos rituais religiosos. as batidas vão vibrando nos instrumentos, nas pernas, na caixa torácica, na cabeça, nos fios de cabelo, nas unhas até que a própria respiração se torne, ela também, marcação de tempo e contratempo.

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