28.9.09

descoberta d'além-mar

http://daliteratura.blogspot.com/


onde achei a seguinte citação, de outro endereço (http://anaturezadomal.blogspot.com):

«[...] De facto a esquerda é utópica. A esquerda é qualquer coisa em que é impossível acreditar. Assim como um amor que durasse para sempre. A direita é natural. A esquerda é sobrenatural. A direita é uma coisa conhecida: o curso de direito, uma bebedeira ao fim-de-semana, uma bofetada do marido, um quadro do Cargaleiro, uma homilia de domingo, o Expresso, a crónica do Marcelo, os lucros do Belmiro e a nossa inevitável pobreza, as festas da Hola, os filmes da Lusomundo, a literatura internacional e a comida do Eleven, a hipertensão e a obesidade. A esquerda é a nacionalização do petróleo, um curso de enfermagem veterinária, um bellini ao fim da tarde em Corso Como, o esplendor das línguas , a pele secreta que as mulheres do Ocidente revelaram no final do século, a música de Arvo Part e Marilin Crispell e Christina Plhuar, os romances de Bolaño, Sebal — a esquerda tem tendência a ter um êxito póstumo —, VilaMatas, Coetzee, o design de Laszlo Moholy-nagy, o testamento de vida , os legumes no wok, o vinhateiro que resiste no Mondovino. [...]»

4 comentários:

L.J disse...

Urgência minha, diga-se.
Há uma biografia se debatendo nos seus posts. Parece uma catarse, uma terapia.
Não é só o texto. Inclusive porque acertadamente vc não escreve muito. É o texto, a aparência, as cores, as fontes, as fotos, as citações, os autores, os textos dos outros... Seu blog inteiro é um assombro para mim pois é um espelho. Eu me vejo refletido nele (melhor: eu quero me ver). Mas não sei se conseguiria fazer algo tão sincero. Não aparenta ser pretensioso, nem falsamente despretensioso, nem é cínico, nem grosseiro, nem metido a engraçadinho, nem ofende, julga etc. Estou em busca desse tom. Não somente em um blog, mas na vida mesmo. E que melhor forma de começar do que alimentando um blog?! Ou seja: eu abri suas páginas no momento certo. Fosse antes, talvez não ficaria tão magnetizado.


Nunca entendi a literatura, a arte enfim. Fui paralisado pelo velho e gasto dilema: "Pra que serve a arte?" Passei anos ao largo. Tomei asco. E eu me vejo agora ansiando por um exorcismo. Porque a vida que me cerca não é, nem nunca foi o suficiente.
Finalmente começo a aceitar que escrever ou apresentar o que nos orbita (uma música, uma foto, um trecho de um livro, um artigo...) é um ato de compaixão consigo próprio.

Ana Janaina disse...

tomei a liberdade porque o que vc escreveu me emocionou.

simples assim.

L.J disse...

Então estamos no mesmo barco.
Tenho olhado os posts mais antigos. Logo retrocedo até o big-bang.
Mas queria que me respondesse: política, psicanálise, literatura... Como essas coisas estão presentes em sua vida? "Tomei a liberdade" de perguntar por que desejo saber mais de você. Afinal, se a criação tanto me impressiona, é por que vislumbro uma semelhança com o criador. "Simples assim".

Ana Janaina disse...

Acho que a grande questão deste blog é a dicotomia ou alternância entre mostrar e esconder, entre negar e oferecer. Se timidez ou charme, não sei dizer.

A literatura permanece comigo como uma vocação não realizada – porque eu escolhi a psicologia e, mais, a psicanálise. Não me arrependo da escolha, foi este percurso que moldou minha visão hoje. Ainda não achei o caminho de conciliação, este blog seria talvez uma primeira tentativa.

Vai ver que faço parte dos bartlebys de que fala Vila-Matas.

Nesta alternância de mostrar ou deixar ver e de enganar um pouco também – li em algum lugar: “em literatura, nenhum roubo é inocente” – deu para criar uma identidade, não uma identidade autobiográfica, primeiro porque tais identidades são, com raríssimas exceções, tediosas, depois porque, e aí é Barthes quem diz, toda autobiografia é um romance que não ousa dizer seu nome. Então, acabou se construindo uma identidade ficcional que, a mim, me serve muito bem.

O morto é porque o autor morreu, porque o escritor é um lugar vacante e a linguagem um espaço de ausências. Ou porque, mais simplesmente, Lacan orienta a se fazer de morto para que haja escuta. Ou porque a morte acompanha a literatura desde sempre...

Tentei dar uma resposta no post seguinte.

Abraços,

A.J.