29.12.08

...estes arquivos, sem nome, nem nome, nomes tolos, vão se multiplicar indefinidamente, assim como os cadernos escolares também cresceram até começar a fazer pilhas, alcançando o teto, até perderem-se nas mudanças, até desaparecem deixando uma lembrança fantasma - eles vão se multiplicar, não vão parar nunca como as palavras que não param na minha cabeça, que vão rodopiando, tentando, de forma patética, nunca bem sucedida, envolver tudo o que eu vejo, tudo o que eu vivo, as pessoas que eu conheço, seus gestos, seus rostos, suas roupas, o que elas possam talvez pensar sobre si, sobre o mundo, sobre o outro - mas é um fracasso - talvez a literatura fosse uma salvação, mas não para mim, e falarei sempre deste espaço, a partir deste espaço, deste hiato entre esta proliferação incessante de palavras e um único gesto de sucesso e calmaria que não alcançarei - a palavra já é, de si, um projeto fracassado – mas não é menos doloroso quando as palavras encontram áreas que lhe resistem, que não aceitam um verbo, áreas sombrias, áreas na sombra, sob a sombra de algo que não aceita palavras, algo que se alimenta de sensações sem nome e desgosto – ou, talvez, será a perseguição de uma palavra mágica, um “abracadabra” que não apenas abra uma porta secreta, mas possa, quem sabe, parar o mundo até que eu consiga decifrá-lo, que faça um clarão; ou que, numa atitude bem mais eficiente e tranqüilizadora, ao contrário do verbo divino, uma palavra que interrompa, desfaça finalmente este mundo...

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