26.6.07

Sobre Angra

Do site Carta Maior:

"Angra III: um alerta nuclear
BERNARDO KUCINSKI

Depois de muita hesitação, o governo finalmente optou pela retomada da construção de Angra III. Predominou a lógica dos grupos de interesse, todos favoráveis à retomada. São pela retomada os militares, fascinados pelo poder que a energia nuclear lhes traz, os industriais preocupados com o risco de um apagão, os cientistas, pelo prestígio e oportunidades novas na pesquisa e no comando do processo, os fornecedores de equipamentos e as empreiteiras, por motivos óbvios, e a população de Angra, seduzida em audiências públicas pela perspectiva de criação de alguns milhares de novos empregos de alta qualidade.

O povo, como se vê, não opinou diretamente. Nem o povo é um grupo de interesses. Não se fez um referendo, nem nada. O Congresso não foi consultado. Nenhum candidato à presidência colocara a questão nuclear em sua plataforma eleitoral. A população da Angra entra na história como grupo de interesse especifico, e não como amostragem de uma opinião pública nacional. O Ministério do Meio Ambiente se opôs em nome dos “interesses difusos” do povo, mas quem garante que o MMA representa uma opinião pública?

Nada disso é novidade. Os programas nucleares foram sempre implantados em segredo de Estado. Desde o projeto Manhattan, em plena guerra, até o reator de Dimona, no deserto do Neguev. É conhecido o DNA autoritário da energia nuclear. Pior: o formato compacto adotado, com base no urânio enriquecido, obedeceu desde o início à lógica militar: uma máquina pequena para mover submarino.

(...)

As usinas nucleares tornaram-se também usinas de mentiras: mentiram sempre e continuam mentindo sobre o problema fundamental dos rejeitos nucleares. A verdade é que até hoje não se encontrou uma solução definitiva e segura para esses rejeitos, que incluem o césio 137, o estrôncio 90, o iodo 129, elementos radioativos mortíferos e cancerígenos mesmo em doses microscópicas. Até as luvas, aventais e vassouras usadas na varrição diária têm que ser despejados em barris hermeticamente isolados. E esses barris vão se amontoando, centenas deles por mês, só em Angra, sem que ninguém saiba que destino lhes dar. Já pensaram até em enviar tudo ao espaço sideral."

Continua em: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14395&alterarHomeAtual=1

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