... estávamos, então, finalmente lado a lado, apesar da minha timidez agir atrasando a colisão já em andamento, paralisando o salto – o corpo estacionando no ar antes de bater no chão –, então ela disse alguma coisa, sei que disse alguma coisa porque abriu a boca moveu os lábios apresentou uma fileira infinita de dentes bem brancos apertou o olho direito e me olhou apenas com o esquerdo a sobrancelha subiu, fazendo um arco triangular, sei que disse alguma coisa e exatamente neste momento um grande silêncio aconteceu dentro da minha cabeça, o silêncio das coisas dispersas, antes do verbo prendê-las em sua rede, fui entrando num filme lento e mudo, o silêncio me fazendo pensar, pensar exatamente nos dentes brancos, muito brancos mesmo, quase como se não fossem coisa humana, e eram tantos! como caberiam todos ali dentro?... faziam uma curva sensível e se perdiam na escuridão, quis contá-los enquanto a boca ia se movendo cada vez mais devagar e, dentro do olho esquerdo, parecia luzir uma chama de conhecimento, de consciência, como se o olho dissesse: ‘sim, sim, eu sei, não há como negar, eu até acho graça, não é possível esconder’. soube, neste instante, que estava perdida.
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